Segunda Família de Virtudes
5.Pudor
O pudor é filho da pureza e da modéstia, e irmão da inocência e do candor.
É muito amado por Meu divino Coração.
Encontra-se principalmente nas mulheres. Este, porém, é o pudor natural, mais vivo e espontâneo no sexo feminino. Embora seja bom, não é desse pudor que aqui falarei. Ai da criatura que perder esse pudor natural, qualidade especial que lhe conferi ao criá-la e da qual deverá prestar-me conta na hora da sua morte. Falarei, então, de outra espécie de pudor que existe na alma, um
pudor sobrenatural, a partir do qual se forma propriamente a virtude do pudor.
6.Pudor espiritual
O pudor da alma consiste num casto rubor, provocado pela santidade que nela habita, e que é a posse, em maior ou menor grau, de toda virtude. Este pudor atrai sobre a alma meu olhar de tenra complacência amorosa.
Este pudor da alma, esta vergonha santa produz na alma uma modéstia e humildade profundíssimas. Esta sublime virtude chega a unir-se à alma que a possui de tal maneira, que o sobrenatural nela aparece como natural, em razão do novo ser que lhe comunica essa virtude.
Esse grau eminente e sublime das virtudes da modéstia e da humildade, que produzem na alma o santo pudor, só o Espírito Santo pode regalá-lo e comunicá-lo, e tão somente a almas mui seletas. Jamais Eu me desposo a não ser com almas pudicas. Sabeis quem são? As que, tendo Minhas riquezas, têm-nas como se não as possuíssem. As que, ao receberem Meus mimos, escondem-se. As que, enaltecidas pelo Divino, rebaixam-se. São essas as almas que Eu escolho para Mim.
Os inimigos do pudor exterior são muitos. Uma vez desatados, causam estragos terríveis às almas. Porém o pudor espiritual e interior, de que aqui falo, não tem inimigos, porque só existe em regiões tão íntimas em que somente Eu penetro e em que nenhum inimigo pode entrar e perturbar. No Meu reino, Satanás não entra: no que é Meu, ele não tem nem pode ter parte.
O pudor de uma alma pura é sempre acompanhado pela presença divina.
Esta é seu centro, sua vida e seu escudo. No pudor da alma, tudo é divino.
Nele não penetra a natureza. A alma só com Deus, e Deus com sua alma eleita, sem testemunhas, adentram nos aposentos reais onde vive o Esposo.
Este santo pudor da alma enrubesceu Maria na Anunciação. A vergonha de ver-se tão pura e descoberta aos olhos do Altíssimo, turbou-a, e teve um momento de hesitação em que a vergonha do divino campeava. Era cheia de graça. Entretanto, quando os ouvidos da alma, mais que os ouvidos do seu corpo puríssimo, ouviram a saudação do Anjo, Maria tremeu por sentir-se descoberta diante de seu Deus e Senhor.
Este pudor santo corou Maria, porque sua profundíssima humildade e modéstia foram imensamente maiores que as de qualquer outra criatura.
E Eu precisamente buscava esse pudor virginal para nele regozijar-Me e ter Meu descanso.
Logo que Maria, com suas excelentes virtudes, rendeu-se à forca da bondade divina, imersa mais e mais no casto pudor da sua incomparável humildade, porém submissa à vontade divina (que, para qualquer alma que Me ame, deve ser seu tudo), respondeu confusa:“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua Palavra”.
Eu Me regozijo no pudor das almas puras, em suas lutas e fadigas! Sigo-as e persigo-as com Meu olhar puríssimo, até os arcanos regaços em que se ocultam! Se soubésseis o quanto Eu amo os suplícios da virtude, os sublimes despojamentos de si, a pobreza espiritual perfeita dessas almas que pudicamente se envergonham de Minhas graças e de Meus dons! Porque isso é um fruto escondido ao mundo… porque…não digo mais.