VÍCIOS OPOSTOS ÀS VIRTUDES PERFEITAS
Dureza de juízo
A dureza de juízo é filha do orgulho e da soberba: quem é duro em seus julgamentos dá mostras de um espírito obstinado, de quem pouco pode-se esperar numa vida espiritual. A dureza de juízo é a antagonista da docilidade. Opõe-se totalmente à santa virtude da obediência, e mais ainda ao estado perfeito dessa virtude, que é a obediência cega. Como sem obediência não há vida espiritual possível, a dureza de juízo impede à alma de entrar na vida do espírito.
A dureza de juízo colide com a vida espiritual, cuja essência, a docilidade, é sua inimiga. Sem docilidade tampouco existe vida espiritual, pois o juízo temerário a destrói. Na vida espiritual, não fará progresso algum quem, agindo por capricho, não se rebaixa a pedir um conselho alheio e não se submete totalmente à santa virtude da obediência. Na hora de um iminente perigo, faz um duro julgamento a ponto de perder a alma.
No intricado campo do espirito, Satanás triunfa inspirando a dureza de juízo no meio de seus enganos e ilusões: grandes obstáculos há em campo tão delicado e transcendental, por culpa desse vício em almas más e teimosas. Os diretores espirituais trabalham em vão até o cansaço com tais almas, sem nunca alcançar algo, nem para o seu bem nem para a Minha glória.
A dureza de juízo torna os corações secos e insensíveis: neles a graça age em vão, até acabar afastando-se para sempre. O Espírito Santo é refratário a esse vício capital da alma, porque Ele sempre busca um coração humilde para comunicar-se.
Ah, desgraçado é o espírito que quer governar a si mesmo e se orienta, exterior e interiormente, apenas pelo próprio juízo e pela própria razão! Cai em fundos precipícios e expõe-se a perigos muito graves. A dureza de juízo não é outra coisa senão refinado orgulho nascido da soberba de saber mais que os outros e de discernir melhor que qualquer outro. A essas almas, Deus dá grandes humilhações, permitindo que sejam derrubadas das alturas do seu amor-próprio.
O remédio de tão terrível mal, maior do que à primeira vista parece, é a formosa virtude da docilidade e da santa condescendência, unidas à renúncia de si. Na morte de todo próprio querer, encontram-se a doçura, a suavidade e o desprendimento abnegado da vontade. Feliz a alma que o pratique!