Tratado Vícios e Virtudes – Virtudes Perfeitas – Caridade

VIRTUDES PERFEITAS

Caridade

A caridade, virtude das virtudes, é o assento eterno do Espírito Santo. Pelo Espirito Santo se produz a santificação, perfeição e união das almas com seu Criador. O Espírito Santo comunica-se por meio da inefável virtude da caridade.
A caridade é como que o eixo de todas as virtudes e de toda santidade e perfeição: dá vida, luz e calor a todas elas. Sobrenaturaliza todas as virtudes, dá-lhes o brilho celestial, marcando-as com o selo sobrenatural com que as diviniza e as torna merecedoras do céu. Sendo tão grande, curva-se a caridade como uma mãe que estende sua mão ao menor de seus filhos.
Todas as virtudes formam um campo de belíssimas flores, cada uma com seu brilho delicado. Esse campo, porém, é como se estivesse de noite: apesar da formosura de suas flores, nada se vê até que venha a luz da caridade, que ilumina tamanha beleza e dá valor, crescimento e vida a cada virtude. A caridade é a regadura do céu que fecunda esse campo por intermédio do Espírito Santo, que, com sua deslumbrante fecundidade, santifica os espíritos.
O Espírito Santo derrama em nós a caridade, de forma que ela é o mais alto grau das virtudes. Além disso, a caridade é tão extensa que abarca todo ato vital da alma, sobrenaturalizando-o. Qualquer ato virtuoso, ainda o mais heroico, se não é permeado de caridade, não tem valor algum para a vida eterna. Nada vale sem a caridade, que distribui os méritos aos homens,ativa a alma na prática das virtudes e é o pulso da vida espiritual. Ninguém pense que a caridade seja apenas um fogo de amor quieto, que só consola e afaga. Não. A caridade opera, trabalha, luta, comunica-se e não descansa, porque é fogo ativo que arde sem consumir-se.
O fulcro da caridade aqui na terra está na dor: a dor é o trono da caridade. O trono do Verbo feito homem é a Cruz; o trono da caridade é a dor. (CC 13,74-78) A dor ou a Cruz, divinizados por Cristo, são o único caminho para subir ao amor-caridade. Por isso,os mais crucificados são os que mais amam. A dor atrai o Pai, o Filho e o Espírito Santo.(CC 5,23)
A caridade é o centro de toda perfeição. Se é necessária em todo homem, num religioso é indispensável. Um religioso sem caridade é algo vergonhoso e deplorável.
A caridade fraterna compreende muitas virtudes. Com efeito, para praticá-la, são necessárias a humildade, a mortificação, a paciência, a abnegação, o esquecimento de si e outras virtudes. Essa mesma caridade fez com que Eu viesse ao mundo e Me sacrificasse até morrer na Cruz. Essa mesma caridade me mantém aqui na terra, oculto na Eucaristia, que é o que Eu quero que reine no Meu Oásis.
Sem caridade não há união. Nos lugares do Meu recreio e descanso, quero que se pratique essa virtude até a perfeição. Se, nos institutos religiosos,se praticasse a caridade, muitas lágrimas seriam evitadas, e Eu receberia muita glória, da qual agora, por falta de caridade, venho privado! Nos Oásis, não há de ser assim: a prática da caridade deve receber particular cuidado; a lepra da falta de caridade não pode penetrar e contagiar os claustros; se aparecer esse grande mal, que seja extirpado com energia, e que seja cortado e arrancado sem compaixão tudo o que foi contaminado.
A virtude principal do meu coração é a caridade para com Meu Pai e para com a pobre humanidade. Na Cruz, a caridade alcança seu ponto mais alto, glorifica a Deus e ganha graças em benefício do próximo. A Cruz do Apostolado representa essa caridade divina. Quanto ama a Deus essa virtude divina! Mas quão poucas almas no mundo a possuem e praticam! Os religiosos e sacerdotes são os que têm maior obrigação de praticar a caridade. Quando não o fazem, abrem em Meu peito uma profunda ferida, causando-Me uma grande pena cada vez que faltam com essa virtude e, em vez de consolar-Me, enchem de amargura Meu Coração.
Quanto sofre a Igreja por essas faltas! Não há zelo no mundo,ou há muito pouco, porque não há caridade, porque poucos Me amam de verdade. Se Me amassem, teriam caridade fraterna e zelo pela salvação das almas, pois o zelo é filho da caridade, e ambos sempre andam juntos. Por isso, a alma caridosa não pode deixar de amar seus irmãos, desejar e procurar a sua salvação, desdobrar-se para alcancá-la e dar-Me glória.
É muito grande e formosa a virtude da caridade. Eu amo a alma que a possui. Quero que meus religiosos a tenham em plenitude: não só a caridade exterior, mas sobretudo a interior, entre si e com sua mãe a Igreja, em perfeita comunhão de pensamento e de vontade.
A perfeição da caridade, até onde seja possível aqui na terra, é a crucificarão. É isso que a caridade ensina na terra, e é isso o que fazem as almas verdadeiramente caridosas: Deus se dá, e essas almas se dão; Deus feito homem crucificou-se pelos homens, e elas, seguindo Meu exemplo, também se crucificam para o mesmo fim. Essa caridade espiritual é a que une o céu à terra. Um verdadeiro religioso há de viver dessa seiva celestial e estar saturado dela.
A caridade é o azeite que lubrifica todas as dobradiças da complexa máquina da religião, e os religiosos hão de ser azeiteiras bem abastecidas.
A essência da caridade é o amor comunicativo, no qual se regozijam eternamente as três pessoas divinas da Trindade e se encerra a felicidade de Deus.
Deus é amor: o Pai tanto amou o homem que, para a sua redenção, imolou Seu próprio Filho; o Filho tanto amou o Pai e o homem, que ofereceu a Si mesmo para salvar o homem e dar glória ao Pai; Espírito Santo manifestou Seu amor, parte no mistério da encarnação, atestando, durante a vida de Jesus, Sua divindade, selando a obra da Redenção, e amparando a Igreja, Sua esposa imaculada.
O Pai é amor e poder; o Filho é amor e vida; o Espírito Santo é amor e graça. A substância das três pessoas da Trindade é a caridade, isto é,o amor de comunicação. Esse amor comunicado ao homem é o amor-caridade.
A dor,divinizada pelo Filho de Deus, é a que conquista o amor. Por isso, os que mais se crucificam são os que mais amam, porque a dor atrai o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Na alma que ama assim,habitam as três divinas pessoas,real e verdadeiramente. Nos corações mais crucificados, o Espírito Santo faz Sua morada.
Maria foi o trono da caridade, porque seu coração puríssimo foi tudo dor. Maria é a única criatura confirmada em graça desde o primeiro instante do seu ser, e sempre foi cheia de graça; possuiu a graça em grau altíssimo e incompreensível a toda inteligência criada, e com a plenitude da graça também obteve a plenitude de todas as virtudes. Só uma coisa faltava à coroa de Maria, e esta também foi-lhe dada, e em grau pleníssimo: a dor. Maria não teve inimigos, pois a todos os mantinha debaixo de seus pés; não teve vícios a combater, nem paixões contra as quais lutar. Nasceu perfeitíssima, santíssima e gozou de uma suma união com Deus, desde o primeiro instante da sua existência. Maria foi um vaso puríssimo que conteve todas as virtudes. A dor também engrandeceu Maria. Seu único crisol foi a dor, uma dor superior a toda dor, pois seu coração sempre esteve cheio de um amor superior a todo amor. A vontade de Maria esteve sempre unida à vontade do Pai, e a vontade divina que Me destinou à dor foi o martírio de Maria e a espada com que sua alma foi traspassada. Assim, a vontade divina foi o instrumento que produzia a virtude de Maria, e ela, fidelíssima como nenhuma criatura, abraçou-se à vontade divina na Minha paixão e na Minha morte. A dor foi o alimento e a vida de Maria. Seu gozo foi a lembrança da Minha paixão e morte, lembrança que lhe trazia o martírio, e martírio que lhe trazia a lembrança. Foi esse o maior crisol que tenha existido para uma alma e para uma alma tão pura como a de Maria, pois nela não houve nem podia haver purificação, já que em sua alma habitou a plenitude da graça. O crisol de Maria foi totalmente para acrescentar mais e mais os graus da graça e seus merecimentos, graus que raiaram quase ao infinito. Maria teve vida de amor ativo na mais cruel dor. Com esse amor ativo unido à dor, exerceu as virtudes num grau heroico nunca alcançado por criatura alguma. Sempre uniu suas penas às Minhas, para a expiação dos pecados dos homens, pois sobre o seu coração também pesou o enorme fardo dos pecados do mundo, e sempre ardeu nela o santo zelo da glória de Deus. Maria sacrificou constantemente os sentimentos do seu coração de mãe à vontade divina:unida ao Espírito Santo, outra coisa não fez a não ser oferecer seu sacrifício em união ao Meu sacrifício, em total conformidade com a vontade divina. Foi dessa maneira que o amor e a dor constituíram a vida de Maria.

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