Tratado Vícios e Virtudes – Virtudes Perfeitas – Vontade de Deus

VIRTUDES PERFEITAS

Vontade de Deus

A vontade divina é o broche de ouro que compreende em si todas as virtudes ordinárias e as espirituais perfeitas, divinizando-as e conferindo-lhes brilho e esplendor diante da presença de Deus. Aumenta o valor das balanças eternas. Reveste as ações da alma com um semblante do qual se compraz o Espírito Santo.
A submissão total e perfeita à santíssima vontade de Deus é a maior virtude que uma alma pode ter. Essa sublime virtude pressupõe a prática completa das demais virtudes. No cumprimento da vontade de Deus, conclui-se o percurso de todas as virtudes morais: ali a alma alcança sua perfeição. Desde o primeiro instante da Minha encarnação, não tive outra comida e bebida espiritual a não ser fazer a vontade do Pai, pela qual e dentro da qual ardia Meu Coração, anelando a toda hora seu mais perfeito cumprimento. Por ela vim ao mundo; por ela subi à Cruz, até encerrar Minha existência terrena no martírio mais cruel. A vontade de Deus adoçava Minha agonia e foi o único consolo da Minha vida. Mil mortes teria padecido para cumpri-la. O amor ativo e divino que ardia no Meu peito impelia-me a cumprir a vontade divina em beneficio dos homens. A Redenção outra coisa não foi senão o fiel cumprimento dessa vontade divina. Seu eco constantemente repercutia no fundo do Meu amadíssimo Coração, fazendo-O vibrar em favor das almas e para a glorificação do Meu Pai.
A vontade divina tem um grau muito alto que consiste no completo abandono à vontade de Deus. Quando esse abandono chega a ser total, alcança-se o cume mais elevado da perfeição e o mais alto degrau de toda virtude. A alma que chega a esse feliz abandono dentro da vontade divina consegue o céu aqui na terra. E esse santo abandono nos bracos de Deus atrai um multidão de virtudes. A confiança tem ali seu ninho; a caridade, seu assento; a união, seu trono. Esse santo abandono exige a perfeita prática de todas as virtudes morais, a morte de si sem voltar a ressuscitar na terra das próprias paixões e vícios. Exige a morte da natureza corrompida e o pleno reinado do espírito, mantendo a natureza a seus pés sob um completo domínio. Esse santo abandono requer uma pureza imaculada, humildade e profundo conhecimento de si, uma elevada pobreza espiritual perfeita, uma renúncia a todo próprio querer,sem limites nem medida. A obediência, a abnegação e o sacrifício devem formar a atmosfera que a alma respira. Só o amor mais puro e divino pode subir a semelhantes alturas. A cruz e a dor são o caminho mais curto que conduz ao abandono à vontade divina. Oh,feliz abandono,que diviniza a criatura mortal,unindo a sua memória, a sua inteligência e a sua vontade àquela vontade divina de infinitos bens e perfeições!
Quando a alma ditosa toca esse cume da vontade divina, abandonando-se totalmente a ela, então as paixões se esvaem e o mundo se afasta, os vícios adormecem, e reina de forma plena a paz do Espírito Santo, conforme seja possível aqui na terra. Então a alma começa a ser verdadeiramente feliz, porque nada a perturba nem a pode perturbar. Toda ela, com tudo o que tem e a rodeia, vive no Meu Coração, inteiramente abandonada à vontade divina. Nada a preocupa, porque descansa no eterno bem. Se a dor, de qualquer maneira, chega à sua porta, a alma recebe-a sorrindo, por ser essa a vontade do Amado. Se a felicidade a rodeia, bendiz a Deus. Se o martírio faz dela a sua presa, também bendiz a Deus.
O domínio de si exerce seu império em Meu favor, sufocando toda revolta natural do coração e inclinando-a à Minha vontade soberana e bendita. Para a alma abandonada a Deus, tanto faz o frio ou o calor, o espiritual ou o temporal, a saúde ou a enfermidade, a vida ou a morte. Sua vontade funde-se à Minha, e caminha tranquila rumo ao porto feliz, levada pelo sopro divino. Muito grande é a vontade divina posta em prática por uma alma pura. Muito maior, todavia, é o abandono total à Minha vontade divina, a mais alta virtude da terra e do céu. Meus anjos e Meus santos outra coisa não fazem no céu, senão conformar-se e gozar perfeitamente da vontade de Deus. A perfeição dessa virtude divina aqui na terra consiste não só em simplesmente abraçar-se e abandonar-se à vontade divina, mas também, imitando os bem-aventurados, em gozar nessa mesma santíssima e adorabilíssima vontade divina.

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