Tratado Vícios e Virtudes – Vícios Opostos às Virtudes de Correspondência – Infidelidade

Vícios Opostos às Virtudes de Correspondências

Infidelidade

A infidelidade é filha da inconstância. Seu veneno á ainda mais fino que o da inconstância. Ambos procedem da maldita dissipação, que os engendra e os abriga sob sua sombra. A infidelidade é a morte da alma: o Espirito Santo afasta-se com suas gracas e dons da alma infiel. A infidelidade é mais culpável que a inconstância, porque esta refere-se ao trabalho que há de ser feito para adquirir os bens, enquanto aquela refere-se a bens já recebidos e alcançados.

A infidelidade está próxima da ingratidão e pressupõe gracas desperdiçadas e favores mal correspondidos. É um dos espinhos com que o homem fere mais cruelmente Meu Coração, porque as que caem na infidelidade são almas privilegiadas a quem concedi Minhas graças e Meu amor. Por isso, dói-Me tanto a ingratidão. Quantos desses espinhos Eu recebo nas comunidades religiosas! Vós não fazeis ideia de seu número! Oxalá, no Oásis, Meu peito sofredor não venha a recebê-los também. Quero um lugar de descanso que seja todo pureza, amor, sacrifício e dor. Já vistes a multidão de misérias que há entre os que se dizem Meus. Basta -diz o Senhor amoroso e comovido. Quero descansar na Minha Cruz com almas fidelíssimas e puras. Quero ter um lugar onde se regozije Meu Coração, onde se dê glória ao Meu Pai e onde se ame em espírito e verdade o Espírito Santo.

Quanta infidelidade existe na vida espiritual! Só porque sou o que sou, eterno e santo, é que não Me canso das almas ingratas e infiéis. A dissipação arrasta-as para a infidelidade. E cada infidelidade arrasta-as para mais mil infidelidades, até caírem na tibieza e na frieza.

É mais difícil a cura de uma alma morta pela infidelidade do que pelo pecado, porque o pecador geralmente se comove com uma graça especial, mas a alma infiel, depois de ter conhecido e desperdiçado tantas gracas, já não mais se comove, nem as graças são mais capazes de tirá-la do sepulcro onde se fechou com suas culpas.

Além disso, uma alma transviada ofende-Me com mais gravidade que outra alma que nunca Me pertenceu intimamente. A isso levam as infidelidades, que muitas vezes enredam a alma.

Raramente e a muito custo, consegue-se cortar seus laços. A alma há de vigiar muito sobre essa questão tão capital, pois a infidelidade, além de manifestar ingratidão, é causa de grandes males.

Os pecados de omissão quase não são tidos em conta: faz-se pouco caso deles, e seu número é quase infinito. A maioria dos pecados de omissão, que muito Me ofendem, são cometidos por culpa da infidelidade. Pedirei conta às almas sobre isso. Minhas graças, por menores que sejam, são tão preciosas (já que são dádivas do Espírito Santo), que excedem, e muito, todos os bens terrenos.

Satanás regozija-se com a infidelidade, que produz milhares de pecados de omissão, por meio dos quais retira das almas os frutos da graça e rouba-Me a glória que essas graças deveriam produzir ao serem correspondidas.

Não imaginais quanta dor causam ao Meu Coração os incontáveis pecados de omissão. Cada pecado de omissão é um espinho, pequeno mas agudo, que se crava no Meu Coração, ferindo-O profundamente. Como só Eu sei o valor de cada uma das Minhas inestimáveis graças, posso aferir a gravidade da culpa de quem as despreza e desperdiça. Oh, que cruel é para Mim ver a infidelidade das almas e como dissipam as santas inspirações, os Meus chamados e as muitas outras graças do Espírito Santo! E mais: se isso ocorresse só no mundo e nos teatros, ou só nas almas entregues à vaidade e à completa dissolução, que fosse! Doer-Me-ia menos!

Mas que isso ocorra também no meio das Minhas comunidades religiosas, no meio de almas entregues exclusivamente ao Meu serviço, chamadas a louvar-Me e a praticar com todo esmero e cuidado a fidelidade, ah, isso sim parte Meu Coração amoroso e faz com que derrame sangue!

As comunidades religiosas também se envolvem em milhares de pecados de omissão. Oh, almas ingratas, mais que ingratas! Haveriam de viver do puríssimo alento do Espírito Santo. Haveriam de se recolher no íntimo de seus corações, escutando, recebendo e devolvendo.

Haveriam de aproveitar e corresponder à menor das divinas inspirações. Haveriam de reunir forças contra os inimigos e alcançar copiosíssimos frutos de vida eterna. Essas almas que deveriam gastar toda sua vida na reparação das infidelidades do mundo, porém não o fazem. Poucas são as almas que fazem isso e Me dão gosto. A maioria dorme tranquila na ociosidade espiritual, traindo-Me com sua infidelidade à graça e enchendo-se de mil pecados de omissão, que Eu abomino de uma forma toda especial.

Não podeis imaginar – repeti-lo-ei mil veze-o quanto Me doem os pecados de infidelidade. E existe uma infinidade deles no mundo e nas comunidades religiosas. São o pão cotidiano e o ar que respiram muitas comunidades.

Por culpa dessas infidelidades, a graça vai se afastando. Muitíssimas quedas, para não dizer a maioria dos pecados das almas e das comunidades como um rodo, se devem a infidelidades, que a principio parecem pequenas, mas logo tornam-se torrentes transbordantes.

A infidelidade, quase sempre, esta na origem de todos os males espirituais. Ficai atentos a isto: não existe meio para prejudicar as almas que Satanás utilize com mais prazer do que a infidelidade.

O Espirito Santo é muito discreto e delicado: assim como se apraz de uma alma fiel, abomina e rechaça uma alma infiel. Os pecados de omissão ofendem o Espirito Santo tanto quanto as infidelidades. Entretanto passam despercebidos e correm como água. Muitos dos que se dizem Meus estão nadando nos pecados de omissão sem sabê-lo e sem compreender por que são tíbios: sem entender que a tibieza tem como causa os pecados de omissão, que, por sua vez, originam-se da infidelidade.

No Meu Oásis, haveis de estudar muito especialmente essa parte da vida espiritual e cuidar particularmente dessas questões de grande transcendência. Fidelidade.

Quero que o Oásis seja a comunidade religiosa da fidelidade, para que o Espirito Santo possa nela derramar-Se conforme Seu desejo. Que omissões e infidelidades não se contraponham à ação do Espírito Santo. Não falo aqui apenas da omissão exterior na prática material das Regras, mas sobretudo da omissão interior da alma que não atende às inspirações e graças particulares e, por isso mesmo, desperdiça sua santificação.

No Oásis,há muitas faltas de infidelidade que Eu quero que sejam banidas. As almas recebem, bem perceptivelmente, o impulso da inspiração divina. Mas deixam-no passar, ficando tranquilas, em vez de apenadas e arrependidas. Ai, não quero que a ingratidão penetre no Oásis, pois da infidelidade para a ingratidão só há um passo. A ingratidão é filha da infidelidade e é a que mais rasga Meu divino Coração.

Ficai alerta! Dizei-o com todas as forças, porque muito depende disso. Repeti que o Oásis há de ser a casa da fidelidade e do amor, isto é, da Cruz e da dor, porque a essência da fidelidade e do amor é o sacrifício alma nunca é fiel sem sacrifício. A alma fidelíssima é a alma sacrificadíssima.

O remédio contra a infidelidade é a constante correspondência amorosa, sempre disposta ao sacrifício. A infidelidade, quase sempre, provém de uma debilidade culpável. Para cortá-la, precisa-se de enérgica abnegação e da correspondência de uma alma pura. Digo de uma alma pura, porque, para haver fidelidade, precisa se de que as almas sejam puras, e, para que as almas sejam fidelíssimas, é necessário que sejam puríssimas.

Almas manchadas e pecadoras nunca são fiéis, porque a fidelidade procede de almas limpas, Eu sou fidelíssimo, porque sou limpíssimo, sou a própria claridade, a própria limpeza, Sede puros, sede limpos de coração, sede fiéis. Não deixeis passar as santas inspirações, porque elas não voltam. Virão outras, que as merecerdes ou se o Espirito Santo quiser dá-las, mas as que desprezastes irão a outros, porque Minhas graças jamais se perdem ou ficam ociosas e sem fruto. Ai das almas que deixam Minhas graças passarem sem recebê-las! Eu lhes pedirei conta delas. Há muitos que haveriam de ser santos e não o são por culpa de uma graça que deixaram passar. Mais ainda: há muitos que, por conta de uma graça que deixaram passar, desviaram-se de seu caminho e foram parar no abismo sem fundo do inferno!

Nesse campo vastíssimo da graça, há de se proceder com extremo cuidado. A multiforme graça de Deus acompanha as virtudes e as almas escolhidas pelo Espírito Santo para receberem sua graça em abundancia.

Mas qual é o remédio? E, ao mesmo tempo, o que é que forma esse receptáculo divino? A correspondência. Essa virtude formosa que contém em si mesma tantas outras virtudes. A correspondência elimina a infidelidade e cura a alma dos muitos prejuízos por ela causados. A correspondência também afasta os pecados de omissão, e purifica e limpa os corações.

Sabeis como ou com que se alcança a correspondência espiritual e santa? Com o amor de Deus e o amor a Deus. Nisso consiste o plano belíssimo e puro da correspondência pudica por parte da alma ,e da correspondência amorosa por parte de Deus. Os próprios anjos extasiam-se com a santa correspondência entre Deus e a alma fiel. Aqui entram em jogo as virtudes da pobreza espiritual perfeita, da fé, da esperança, da sublime caridade e de outras muitas e altíssimas virtudes, que servem, ao mesmo tempo, de escadaria para a oração, a contemplação e a união. Vede até onde se estende a correspondência? Até essas alturas conduz a fidelidade, e de todos esses bens nos priva a maldita infidelidade. Satanás, que conhece tudo isso, estimula a infidelidade nas almas, noite e dia, sem descanso, com todo meio que está a seu alcance. Satanás também faz com que a infidelidade leve a muitos pecados. Quem é infiel, murmura.

Quem é infiel, transige culpavelmente. Quem é infiel, deixa-se arrastar pelo respeito humano. Quem é infiel, adula, finge, calunia, deixa-se levar pela dissipação, pela sensualidade, pela susceptibilidade, pela frivolidade, pela imaginação, pela curiosidade, pelo amor-próprio, pela exageração, pela cólera, pela vingança, pela doblez, pelo ódio, pelo rancor e por uma multidão de vícios horríveis. Oh, infidelidade traiçoeira! A quantos males levas as almas infiéis! O teu veneno arrasta até submergir na obstinação e na impenitência final, por intermédio da soberba da qual estás impregnada. Infelizes – repito-os corações infiéis!

As almas que querem servir-Me e purificar-se, hão de ter muito esmero e cuidado com a fidelidade. Advirto-vos de que um grande empecilho para a fidelidade é a soberba. Quando as almas caem, a fim de mantê-las presas, Satanás as enche de um desalento maligno, para evitar que se humilhem, se levantem e voltem ao caminho do espírito. Por meio de mil ardis, envolve-as e as impede de seguir o caminho empreendido. Um de seus embustes mais comuns é o de apresentar-lhes sua impotência, por intermédio de uma falsa humildade que, no fundo, esconde uma enorme soberba.

Com efeito, apesar de seu grande talento, Satanás nunca consegue ocultar de todo seu orgulho. Por mais que tente disfarçar-se, sempre deixa transparecer sua maldade. Como ocultar o que é consubstancial a seu ser? Infelizes as almas que se detêm a escutar Satanás.

Desgraçadas as almas que não se vencem, que não se humilham, que não se arrependem e que, sem confiar em Meu apoio mais que em si mesmas, não voltam a subir rumo à sua perfeição. As almas, se caírem mil vezes, mil vezes hão de humilhar-se, arrepender-se, levantar-se e prosseguir. Assim,vencemos Satanás, todas as suas maquinações e seus estratagemas ardilosos. Felizes as almas que põem tudo isso em prática!

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