Vícios opostos as Virtudes de Vencimento
Tibieza, frieza, desanimo
A tibieza, a frieza e o desânimo, no serviço divino e no bem espiritual próprio, nascem da cegueira, que, como um castigo, escurece e ofusca a graça. Consequência natural do afastamento da graça é o pecado venial, que produz esses terríveis inimigos que tanto mal causam ao caminho do espírito. O pecado venial esfria e entorpece o coração, submergindo-o no desânimo mais profundo: tira do coração a preocupação pelas coisas de Deus e introduz, na alma manchada, uma falsa piedade. Embaça a imagem de Deus no coração, com a poeira de seus pecados veniais. A alma, fria pelo pecado venial, não se perturba com nada: vê com indiferença e fastio tudo o que é santo e divino.
A alma tíbia quase sempre carrega consigo, em maior ou menor grau, a hipocrisia; dela se vale com frequência para aparentar o que deveras não sente. As vezes, um resquício de remorso passa pela alma tíbia, feito um raio, mas a inércia que carrega em si é tamanha, que vence todo impulso da graça que venha a tocá-la.
A tibieza é mais odiosa para o Meu Coração que a frieza. Esta tem remédio, e uma graça de Deus pode curá-la totalmente. A tibieza, porém, leva a alma a pecar despreocupadamente, apoderando-se dela para sempre, a não ser que intervenha Minha Onipotência para salvá-la. A tibieza circula habitualmente pelo mundo das almas; entretanto, nas comunidades religiosas, é uma praga, especial e extremamente, prejudicial.
-Jesus, nas comunidades religiosas existem pecados veniais?
-Oh, sim. E quantos! Existem, e numa quantidade assombrosa.
-Isso é possível, Senhor?
-Sim, é possível. E é por culpa da tibieza.
Uma coisa arrasta a outra, e essa relação entre tibieza e pecado nas almas religiosas, muitas vezes só termina com a morte.
A praga da tibieza expulsa do coração o Espírito Santo, que é fogo e amor ativo, e é inimigo da frieza e da tibieza. Esse inimigo capital das almas causa muitos estragos aos espíritos: debilita-os no cumprimento do bem e os torna capazes de todo mal. Uma alma que queira Me amar, jamais deixa esses inimigos maléficos acercarem-se de suas portas e arrastá-la impiedosamente eterna condenação. Esses inimigos impeli-la-iam àqueles grandes males que a princípio contemplava com horror. Mais tarde, porém, familiarizada com eles, render-se-ia a seus abraços. Ninguém faz muito caso da tibieza, apesar de ser uma das armas mais queridas de Satanás, com que aplica golpes certeiros, muitas vezes mortais, às almas aparentemente piedosas que em sua maioria, porém, pertencem ao demônio. Não digo que, pertencendo a Satanás, acabarão necessariamente todas no inferno. Digo que representam uma seara especial em que ele se recreia, entretendo-as e enganando-as. Satanás é malicioso e astuto. O ponto de partida para seus ataques a essas almas é sempre a tibieza. A tibieza ajunta, na outra vida, muito tempo de purgatório para as almas que são sua presa!
Sabeis quais são os únicos remédios contra a tibieza, a frieza e o desanimo? A pureza e o sacrifício. A Cruz produz na alma o amor ativo, que é inimigo de toda frieza, tibieza e desânimo. A Cruz bendita gera na alma uma espécie de fogo vivo que jamais esmorece, arrefece ou declina. Oh, dor! Tu és o inimigo mortal do demônio. Quando compreender-te-ão as almas? Quando, possuindo-te, não mais desejarão abandonar-te? Quem, conhecendo-te, será capaz de rejeitar-te? Ninguém. Toda alma que saiba o que é a Cruz, e a tenha experimentado, jamais pretenderá descer dela. Pois na Cruz encontra copiosíssimos tesouros, gracas e dons que nem o mundo nem as almas tíbias vislumbram. A dor, portanto, é remédio eficaz contra a tibieza, a frieza e o desânimo, que entorpecem a alma na comodidade e no prazer, não lhe deixam forças para avançar na vida espiritual, e muito a prejudicam com suas funestas consequências. O desalento frustra a graça e deixa a alma sem condição de corresponder às santas inspirações. E o Espírito Santo é muito delicado: afasta-se com seus favores das almas desanimadas e inaptas a todo bem.
Nesse desânimo, quem se compraz é Satanás, que enche a alma desalentada de falsa humildade, debilidade e amor-próprio, que deságuam numa profunda preguiça. O desalento causa na alma males quase infinitos. Torna-a inapta a todo bem, e, com a convicção infundada de suas poucas forças, a pobre alma passa uma vida inútil e vazia, chegando à eternidade numa condição digna do fogo do purgatório.
As almas desanimadas sofrem mil amarguras, profundas tristezas, escrúpulos e remorsos. Mas tudo é inútil, porque tamanho é o poder do inimigo que as mantém presas, que são incapazes de dar um passo que seja para sair de seu torpor e erguer-se de sua inércia mortal. A essas almas desgraçadas, faz-lhes falta alguém que compreenda seu mal, as levante e as cure com o lenho santo da Cruz, revigorando seu coração e dando-lhe valor.
Há milhares de almas nessa prostração letal que não encontram um guia que, sacudindo-as e animando-as, derrote o inimigo. Muitas dessas almas que deveriam ser Minhas passam a vida sofrendo inutilmente, imergidas em seu mal até a morte. Satanás brande contra elas suas armas, cada uma mais poderosa que a outra, para que tropecem no difícil caminho do espírito.