Tratado Vícios e Virtudes – Vícios Opostos às Virtudes de Vencimento – Preguiça

Vícios Opostos às Virtudes de Vencimento

Preguiça

A preguiça é filha de Satanás. É um vício universal de todos os climas e temperamentos. Infiltra-se igualmente no grande como no pequeno, na criança como no idoso. É o grande recurso de Satanás contra toda virtude. É o contrário do amor ativo e carrega uma coorte de inúmeros vícios. É um daqueles vícios que exigem da alma um grande e supremo esforço para livrar-se dele: necessita de um coração valoroso e constante que sempre lhe se contraponha, derrotando-o a cada passo, pois onde puser seus pés, logo lança raízes e forma seu ninho. Ai da alma preguiçosa que se deixa prender por vício tão pegajoso! Nunca avançará no caminho do espírito, cheio de luta, trabalho e conquista.

A preguiça é como que a síntese de comodidade e moleza. Consiste numa grande negligência que, introduzindo-se na alma, comunica-lhe sua inércia, debilitando-a para tudo o que é bom.

Assim como a gula e a luxúria, a preguiça arrasta não só a alma, mas também o corpo, impregnando-os com seu daninho contato. A preguiça que se apodera do corpo, sempre triunfa, a não ser que uma graça poderosa, com o auxílio da vitória sobre si mesmo, venha a arrancá-la de tão amáveis braços. Só pondo em jogo o exército das virtudes heróicas – amor ativo, trabalho, vitória sobre si mesmo, domínio e desprezo de si-destrói-se mal tão funesto.

A origem do cansaço, do fastio, da sensualidade e da comodidade é a preguiça. Dela procede a tibieza no serviço divino. Ela desvia a alma dos atos piedosos e dos sacramentos. É a mãe da ociosidade e de inúmeras paixões, vícios e defeitos. Por meio dela, Satanás persegue o fim de afastar a alma de todo bem e merecimento.

A alma preguiçosa não consegue entrar na vida espiritual de sacrifício e de dor e não prospera. Quando menos, aguardá-la-á um longo tempo de purgatório.

O mundo nada na preguiça, As almas dormem tranquilas no seu colo amoroso, mas seu despertar na eternidade será terrível.

A preguiça é inimiga da Cruz: seu reinado afasta as almas da dor. Especialmente por culpa da preguiça, o mundo afunda na comodidade, nos vícios e no inferno. Há de se arrancar a preguiça para que triunfe a Cruz, que é o antídoto desse mal tão assombroso. A Cruz sacode o torpor que envolve os corações, despertando-os e transformando-os. A Cruz é a fortaleza do coração, atividade da alma e sua salvação: é remédio universal, cuja influência divina cura todo vício e paixão.

Existe uma preguiça exterior e ordinária, fácil de ver, embora a hipocrisia possa encobri-la com seu manto. Esse tipo de preguiça causa graves danos e estragos também à saúde do corpo. Toda desordem causa algum prejuízo, e a preguiça é uma grande desordem, haja vista que o homem foi criado para o trabalho, que o livra de inúmeros males. No trabalho, o homem Me serve e Me glorifica, cumprindo o fim para o qual Eu o criei. A preguiça arreda o homem do trabalho, fere as leis da natureza e corrompe o homem. O trabalho, portanto, é o remédio da preguiça.

Existe também uma preguiça espiritual, que consiste numa morosidade e inércia que se apoderam da alma débil e frouxa, a qual se deixa prender sem resistência, Esse tipo de preguiça torna pesadas as coisas de Deus até afastar de todo a alma de Deus.

Desgraçada a alma que se deixa levar por essa suavíssima correnteza que desemboca no inferno! Essa preguiça, nos que se dizem espirituais ou Meus sem sê-lo, geralmente, é coberta pela espessíssima capa da mais refinada hipocrisia e lhes mina a alma, A preguiça é o vício das escusas: Satanás manipula-a com arte para agigantar ou criar extravagantes e fantasiosos pretextos. Grande é a colheita que, por meio desse horrível vício, Satanás recolhe para a própria glória! Exceto Maria, quase não existe nem tem existido sobre a terra uma alma que não tenha sido desviada pela preguiça.

A penitência e a mortificacão são o veneno que mata a preguiça espiritual e incendeia o peito com o amor ativo, o qual destrói a preguiça por completo.

A preguiça espiritual perfeita consiste numa quietude interior que não é inspirada pelo Espirito Santo e que cria a ilusão de um falso bem-estar, sinal de uma suposta vida virtuosa. Sem dizê-lo, parece a esta alma que pode descansar sobre os louros: que já trabalhou o suficiente para subir ao topo e que, com isso, é hora de descansar, diminuindo as penitências, as mortificações e os outros atos louváveis que fazia. Na realidade, é preguiça: nada mais que um disfarce de Satanás, pois, na vida espiritual, não existe descanso, devendo-se sempre ascender, combater, lutar, vencer-se e desprezar-se até a morte.

Há muitas almas boas enganadas pela preguiça espiritual perfeita. Que abram os olhos e arranquem a venda que os cega e que pode perdê-las. O remédio contra a preguiça disfarçada, envolta no manto da soberba, é o sacrifício constante e aquele padecimento contínuo que sempre aferroa o espírito e que não dá ao corpo descanso.

Bem-aventurada a alma que jamais descansa e que sofre e padece! Alcançará um grande prêmio e atrairá graças do céu para si e para outros.

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