Virtudes de Vencimento
Domínio
O domínio de si é filho da vitória sobre si mesmo, e é virtude necessária e indispensável à vida do espírito. Consiste numa luta perpétua. Santidade não é ausência de paixões, já que o homem é feito de paixões que movem guerra ao espírito. A santidade consiste em dominar a natureza rebelde, sujeitando-a ao espírito e cresce proporcionalmente à graça e ao trabalho da alma que vence a si mesma.
Quando a alma vence e triunfa de seus inimigos, pondo-os a distância, calcando-os a seus pés, eleva-se para a perfeição, chegando à união com Deus. Essa sua jornada é, à primeira vista, íngreme e trabalhosa. Por isso, precisa de um coração resoluto e valente para empreendê-la, noite e dia vigilante. Mas Meu jugo é suave e Meu fardo é leve. A alma que Me ama, empreende esse caminho para seguir-Me; carrega Minha Cruz e coloca seus pés em Minhas pegadas ensanguentadas.
Bem-aventurada a alma que não se distrai ao longo do caminho! Feliz a alma que domina e move guerra a si mesma, que não descansa, nem para, nem se extravia até chegar à perfeição!
Esse domínio de si é a arma que há de se usar do começo ao fim da vida espiritual, praticamente durante a vida inteira neste mundo. O homem sempre haverá de lutar para adquirir méritos, e a alma que Me ama – repito – não se cansa: seu descanso é não descansar. Feliz a alma que toma sua cruz, nela se imola, e não a abandona nas mil penas que sofre!
No fundo do seu coração, essa alma encontrará um tesouro, que sou Eu mesmo. À alma fiel, enriquecerei com Minha graça e Meus dons, conforme sua fidelidade.
Levá-la-ei a regiões inexploradas, enfeitá-la-ei com flores preciosas e a chamarei de Minha. Oh, quantas almas não sabem o que perdem e o que poderia torná-las felizes!
O domínio de si não é outra coisa que a Cruz: a alma que nele se aplica, triunfará e será Minha. Mas, como todos fogem da Cruz, fogem também do domínio de si, que engloba a crucificação da própria vontade.
Para encontrar a paz e chegar até Mim, contudo, não há outro caminho a não ser a dor. Oh! Não posso falar da dor sem deter-Me a enaltecê-la. A dor é a salvação do mundo. O mundo se perde, porque se recusa a sofrer. O único refúgio do homem é Meu Coração, cravado no meio da Cruz.
Ninguém – repito – poderá chegar ao Meu Coração se não for pela Cruz, pela dor e pelo domínio de toda vontade desordenada. Quem renuncia a si mesmo, a seus gostos e comodidades, encontra-Me.
Quem sobe na Cruz, aproxima-se do Meu Coração. Bem-aventurados os que choram, sofrem, e abraçam a dor por causa de Mim, porque serão consolados! Não serão confortados os que padecem por causa do mundo ou por um fim puramente natural, nem os que, por ter pecado, sofrem as consequências de seus pecados impenitentes, nem os que, no meio de suas dores, perdem a esperança e a confiança.
Serão consolados os que carregam Minha Cruz com amor; os que abraçam a dor com gozo; os que desejam o sofrimento, buscam-no, seguem-no e se martirizam só por amor a Mim. Esses, sim, serão consolados. E qual será seu conforto? O gozo espiritual no Espírito Santo, que está acima de todo e qualquer prazer. E não apenas na outra vida, mas, frequentemente, também nesta vida. Oh, se as almas saboreassem, um pouco que seja, esse consolo divino produzido pela dor! Sabeis quem oferece esse consolo santo, esse gozo espiritual? O domínio de si. Quão grande é essa virtude essencial à vida crista! Seu campo é vastíssimo, tão vasto quanto se estende a vida do homem sobre a terra. Seu apoio é a humildade.
Suas vitórias se alcançam pelo sacrifício. Seu fim é a santidade. Sua estrela e único alvo de suas conquistas é Cristo. Seus inimigos são uma miríade e persistentes. A confiança em Deus e o desprezo de si os enfraquece.