Tratado Vícios e Virtudes – Virtudes de Vencimento – Perdão

Virtudes de Vencimento

Perdão

O perdão é uma virtude sublime que nasce do sacrifício e da generosidade, e que levou a Deus na Cruz. Ali pregado, Eu dei-vos o perdão, a fortaleza e a energia para vosso sustento. O perdão é uma dádiva do amor divino que impele a alma a olvidar as afrontas recebidas e – mais ainda – a não sentir-se ofendida.

O perdão espiritual perfeito eleva-se mais ainda e chega, não só a esquecer e calar, mas a fazer o bem ao inimigo, de todas as formas possíveis. Por ser contrária à natureza, a virtude do perdão é tão sublime e agradável a Deus. Isso foi o que o mundo escutou na primeira palavra que Eu disse sobre a Cruz.

Pode-se perdoar de mil maneiras, não só pela boca ou com palavras, que a nada servem sem a vontade interior de perdoar.

Perdoa-se dissimulando as ofensas e apagando do fundo do coração toda amargura e aspereza. Perdoa-se rezando pelo inimigo que nos ofendeu, coisa particularmente agradável a Deus, que representa um dos pontos mais elevados do perdão espiritual perfeito. Com efeito, não basta desejar e praticar um bem material em prol do ofensor, mas é preciso sobretudo fazer um bem espiritual, pedindo a Deus que derrame suas bênçãos sobre a alma do inimigo.

A virtude do perdão ainda vai mais além, coincidindo com a caridade perfeita ao próximo, que doa espontaneamente e roga em benefício do inimigo as graças que vêm de Deus. Nisso consiste o ponto culminante do perdão espiritual perfeito. Poucas almas o alcançam. Bem-aventuradas essas almas, porque Deus olvidará seus pecados e misérias, perdoando a quem perdoa.

Essa virtude sobrenatural pressupõe na alma que a cultiva uma prática avançada das virtudes morais. É uma virtude sobrenatural, mas precisa da cooperação do homem para ser posta em prática. Entre seus frutos, temos a paz que o Espírito Santo derrama na alma feliz que perdoa.

Essa virtude guerreira, em razão da luta interior que se trava entre o coração e a natureza, carrega sempre consigo a vitória sobre si mesmo, o domínio e o desprezo de si e a humildade. Quando a alma perdoa e olvida, vence a justiça, submetendo-se à humildade. Nessa alma ditosa, então, entram em jogo as virtudes heróicas da firmeza, da energia, da integridade, da paciência, da serenidade e da constância.

Todas essas virtudes colaboram para reprimir o levante das paixões e sustentar a pobre alma em sua generosidade, para alcançar seu fim que é o perdão e a caridade para com o próximo.

O demônio agita as paixões, ofusca a razão, avulta as ofensas, provoca tempestades terríveis no coração e no entendimento.

Contra o perdão, Satanás não tem limites e põe em jogo todas as suas maquinações. Assim, a soberba e o amor-próprio, às vezes patentes, outras vezes disfarçados de virtude, intervêm para impedirem, com mil desculpas, a prática do perdão.

A falta de perdão causa grandes estragos no mundo, cotidianamente perturbado por contendas, rancores e vinganças. Há muitos demônios incumbidos de espalhar a divisão e a vingança, frustrando, com seus ataques impetuosos, o perdão. Quão pouco perdão há no mundo – diz o Senhor entristecido. Muito menos perdão espiritual perfeito! Disso procedem a infinitos males em todas as classes sociais.

Ainda – o que é pior – esse veneno corrosivo insinua-se também na Igreja, onde há secretas vinganças. É possível?

Sim, é mais que possível. É uma lamentável realidade que muito machuca Meu

Coração manso e humilde. Já tenho dito que não perdoarei a quem não perdoa: sem o perdão ao inimigo, não escuto a alma que reza. Mas o mundo e os que se dizem Meus pouco caso fazem das Minhas palavras. Quase todos os pecados do mundo têm a aterradora marca da vingança; neles se infiltra esse maldito vício que Eu detesto, pois a vingança é filha da soberba, corrompe tudo e fixa seu assento até no mundo espiritual.

Perdoai, perdoai, nunca canseis de perdoar: esquecei e fazei o bem. A alma que agir assim receberá no céu uma coroa imortal.

Compartilhe com seus amigos...