VÍCIOS OPOSTOS ÀS VIRTUDES DE CARIDADE
Murmuração (PARTE 1)
A murmuração é filha do amor-próprio e da leviandade. É um vicio universal, de todas as épocas, climas e estações; é um rio desbordado; é um mar sem margens que, semelhante à sua mãe, inunda todos os corações ou a maioria deles. A murmuração, vício que Eu detesto, tem seu abrigo nos corações fúteis, soberbos e levianos. Acende no coração a faísca do amor-próprio, e o fogo cresce, transbordando e queimando tudo o que toca.
A murmuração é o punhal com que se mata a caridade; é o pecado abominável que rompe o mandamento que tanto ama Meu Coração. A murmuração é odiosa e imprópria para um cristão: quebra os vínculos mais sagrados, separa corações e vontades, mudando o afeto em aborrecimento.
Esse vício maldito produz diariamente milhões de pecados que ferem diretamente Meu Coração, todo amor e caridade. A murmuração ataca a fraternidade e introduz um espírito de divisão nas famílias e sociedades. Quantos danos, quantos males e até crimes, ódios, rancores, vinganças, traições e escândalos provêm da murmuração! Quão fácil é para o homem dizer uma palavra, e quão difícil ou impossível é recolhê-la de volta! Poucas são as almas que dominam a língua! Quem não domina a própria língua, tampouco domina a própria alma. A língua é o eco das paixões: nela ressoa o que há dentro da alma! Ai do coração que se desvia pela língua! Há de chorar, e muito, pelos danos causados, pelas graças perdidas! Não há coisa – diria – que mais afaste o Espírito Santo da alma que a murmuração. Onde há murmuração, não há caridade, não há união, não há fraternidade. Onde reina a murmuração, reina o inferno, a saber, Satanás e seus sequazes com seu séquito de vícios, pois a murmuração arrasta consigo uma multidão de vícios.
Quanto se falha ao falar c ao julgar ações e palavras alheias! Mais erramos quando, para além do que vê, o coração, quente de paixões, pretende apreciar pela imaginação e julgar o que não vê, adentrando a intimidade alheia! Em quantas ocasiões, uma imaginação exaltada, um coração oprimido pela inveja, pela soberba ou pelo ciúme, dá por coisa feita, comenta e condena algo que não existe e que esta longe de existir. Mais ainda: opõe-se ao que se conta nas rodas de conversa, e que somente Eu vejo. Há mil enganos sobre esse assunto. Quão envergonhadas ficariam certas almas diante de Mim, se Eu por um instante lhes mostrasse a realidade! Ao mesmo tempo que despedaça uma honra, uma fama, uma ação, nesse mesmo instante, aquelas almas encontram-se em Meus braços, inocentes ou purificadas.
É delicado tocar ainda que seja apenas um cabelo da fama do próximo! Quão grandes e espantosos pecados se cometem sobre esse assunto! Quanto se afastam dos Meus mandamentos os que agem assim! Em quão graves males e profundos precipícios caem as pessoas que não põe freio à sua imaginação e à sua língua! Muito mais lhes teria valido não ter nascido.
Meu Coração rechaça o murmurador.Jamais descem Meus divinos favores sobre almas que têm esse vício detestável e infernal. O vício das brigas, dos ódios e das vinganças é o vício da murmuração. A alma que murmura não dá um único passo na vida espiritual, que se apóia na caridade, para ela cimento, paredes e telhado. Por isso mesmo, onde não há caridade, não há vida espiritual, simplesmente porque é impossível que haja.
A murmuração é o veneno mais eficaz para destruir e dissolver uma comunidade religiosa. As comunidades religiosas deveriam ser a presença mais pura da mais pura caridade. Nelas há de reinar, preferencialmente e sem a mínima interrupção, a formosa virtude da caridade, que une o homem a Deus, o céu à terra, e os homens com o mais estreito laço da mais pura e santa fraternidade. Na caridade, encontra-se a ordem. Quando o homem vive a caridade e respira nela, tudo anda em perfeita harmonia, e Deus reina no meio das almas que a praticam.
Pelo contrário, onde não há caridade, há desordem; Satanás reina e estabelece seu império em tão grato lugar, promovendo inúmeros estragos com graves e inimagináveis consequências.
A murmuração é veneno para o espírito, joio que destrói todo bem sobrenatural nos corações. A murmuração é horrível e detestável. Não é necessário que a murmuração chegue a manchar os lábios de quem a pronuncia para ofender-Me. Não. Para ofender-Me, para ferir Meu Coração,basta que o coração a aceite e se compraza nela.Tão afiado é seu bisturi!
A caridade para com o próximo é algo tão delicado, que a alma se mancha por qualquer falta cometida, mesmo que interiormente. Oh, bela flor da caridade!
Teu perfume é para Mim tão agradável!
Como és despojada e pisoteada a cada instante, não só pelo mundo que se corrompe, mas também por aquelas almas queridas que se dizem Minhas!
Para o homem, a murmuração é um licor mui saboroso. O trabalho de Satanás é por esse licor nos lábios do homem. Atrai-o e embriaga-o de tal maneira, que, depois, torna-se muito difícil afastá-lo de si. Somente a graça, auxiliada pelo domínio de si, é capaz de operar semelhante prodígio.
A murmuração é um fio que, ao tomar sua ponta, nunca acaba de desenredar-se: forma tais emaranhados e se adentra em tais profundezas, que é impossível para a alma sair do labirinto em que se meteu sem perceber. A murmuração é uma encosta, um declive: a alma desgraçada que nela se embrenha, geralmente, não se detém; escorrega até cair no fundo lamacento onde desemboca esse plano inclinado.
A murmuração é um vício que não apenas condena a alma que nela se detém, mas convida e atrai com magnética astúcia outros corações que lhe prestam ouvido, maculando-os e tornando-os sua presa.
É muito difícil para o murmurador se deter. Contudo mais difícil ainda é que se detenham as almas que o escutam, pois, sem um grande domínio de si, juntamente a uma força de vontade dada pela graça, geralmente essas almas caem e se derrubam pelo mesmo despenhadeiro. O horrível vício da murmuração contamina e contagia quem o escuta. Há de se fugir não só da murmuração, mas também do murmurador. Fechai sempre as portas do vosso coração a ambos e escondei-vos no mais íntimo da vossa alma, abraçados apenas a Jesus, dependentes apenas dos
Meus divinos lábios. Olhai: os ouvidos que escutam com prazer a murmuração, não escutam, nem podem escutar, com seu ruído, as divinas inspirações. É tão suave, pura e delicada a voz do Espírito Santo, que só escutam suas vibrações os ouvidos abertos daquelas almas que, protegidas de todo ruído de vícios e paixões, vivem ocultas e tranquilas, dominando e desprezando a si mesmas. Escutam o Espírito Santo as almas impetuosa corrente da murmuração, a ela se opõe, lutando e vencendo, sem deixar-se arrastar por sua fúria e por sua força.
A murmuração é um vicio maldito que, com seu mágico murmúrio, atrai, bajula,regozija o coração que escuta sua encantadora melodia. É a música de Satanás, na qual se deleita e goza o infame, e que seduz suavemente as almas que a escutam. A murmuração é um vicio que, depois de implantar-se, fere com profundos remorsos: é a maça dourada da traição satânica, que, ao ser levada aos lábios, destila amarga fel de pungentes remorsos. É um vício cuja especialidade é tirar a paz e a tranquilidade da alma.
A alma que me ama, só de escutar seu nome, treme e foge dela como da mais venenosa serpente, e sofre terrivelmente quando vê outras almas caírem em sua rede. A alma que deveras ama não se compraz na murmuração. Pelo contrário, sofre e se lhe parte o coração ao ver-Me ofendido. Antes que alimentá-la, procura evitá-la com quantos meios estão a seu alcance.
O remédio da murmuração é tão grande quanto necessário. Consiste no amor a Deus. Quem Me ama, jamais murmura nem quer que outro murmure. Seu coração e seus ouvidos doem, ao mesmo tempo que se fere Meu Coração com essa grande e grave falta de caridade. A alma que Me ama move-se conforme o ritmo do Meu Coração; deseja o que Meu Coração deseja; quer o que Meu Coração quer; aborrece o que Meu Coração aborrece. Oh, semelhança de vontades, a divina e a humana! Oh, prodígios do amor divino,da caridade incriada, que eleva o espírito a semelhantes alturas! Onde te encontrarei?
Quão poucos são no mundo esses corações que chegam a tão perfeita união! Sabei quais são o primeiro e o último degrau que a ela conduzem? A caridade e a caridade.
Quem Me ama, ama a seu próximo.