VÍCIOS OPOSTOS A VIRTUDE DA PUREZA
Imodéstia
Quero falar de um vicio espantoso que repugna ao Meu Coração e enche de almas o inferno, um vício nefando contrário à pureza. Esse vício é filho da soberba. A inveja e o ciúme formam sua coorte favorita. É uma paixão avassaladora e asquerosa que se apodera da alma, do corpo, de todo sentido e potência da criatura, dominando-os e instilando seu perverso veneno.
Pelo pecado contra a pureza entra a incredulidade, paixão que ofusca a fé nos corações, tira a esperança e destrói a caridade. A imodéstia separa de Deus, que é a própria Pureza. O Espírito Santo jamais desce, sequer se aproxima, olha ou escuta uma alma impura. Mais ainda, foge dela, retirando sua graça e sua luz. Assim abandonada, a alma fica em meio a trevas espantosas e a uma profunda escuridão.
O vício que mais afasta uma alma de Deus é aquele que é contrário à pureza. Por isso mesmo, não é de estranhar que as almas impuras se afundem, naturalmente, em pecados mortais e se revolvam no lodo fedorento de suas paixões. O vício contrário à pureza é um veneno tão potente para a alma, que, tocando-a, mata-a. Além do mais, seus hábitos corruptos a infectam, contaminam e molestam até tirar-lhe a vida, se não toma logo o antídoto do arrependimento e da profunda humilhação, ou seja, a Cruz em todas as suas formas.
Esse vício é uma fera de tamanha astúcia, que, para destruí-la, faz-se necessário o próprio Deus. Toda criatura deve fugir da imodéstia como da mais terrível serpente, pois só seu olhar já envenena e corrompe.Trata-se de paixão vil, baixa e rasteira que degrada o homem até convertê-lo numa besta. Tem o funesto magnetismo da vileza mais infame e da malícia mais solapada. Oculta-se para morder e manifesta-se para precipitar a alma no desespero.
Acudir a Maria, a mais pura das criaturas, a Imaculada sem mancha, remove da alma esse vício horrível.
O germe desse mal surge e finca suas raízes se o homem, antes, não o submete por meio dos sacramentos, das humilhações e do domínio de si. A divina Eucaristia, que contém a própria Pureza, é remédio infalível contra a imodéstia. Ademais, Meu Sangue precioso gera virgens e fortifica corações, purificando-os e infundindo-lhes luz e graça.
O vício oposto à pureza é uma gangrena que, num abrir e fechar de olhos, corrompe os corações mais puros, tão rápido e danoso é seu veneno. Essa espantosa gangrena, se não for cortada imediatamente, ao se perceber seu pegajoso contato abrasador, logo queimará e formará pavorosos incêndios na alma, que só Eu posso apagar com Minhas graças extraordinárias, não bastando as comuns e ordinárias.
Esse vício é, para além de toda ponderação, horrível, e costuma cobrir-se mais com sedas que com pano de saco. O mundo está cheio de perigos desse vício horroroso. Nos campos e nas cidades, nos palácios e nas cabanas, em todo estado, classe, idade e condição, em maior ou menor grau, há desses perigos.
Mal a razão desperta na criatura, e já esse maldito vício surge e começa a desenvolver-se. Rara, raríssima é alguma alma eleita pelo Espírito Santo, que fica livre dessa praga. Ainda mais rara é a alma que não apenas está livre, mas que também sempre foi livre da imodéstia, sinal evidente de predestinação de uma alma virgem, pura e inocente, reflexo do próprio Deus.
A Cruz é o antídoto contra a imodéstia. A dor em todas as suas formas, além de purificar a alma, traz em si mesma uma virtude que livra as almas desse vício infernal. Feliz a alma que abraça a Cruz!
Ela será pura, e Meus olhos buscá-la-ão para comprazer-Me. O Espírito Santo derramará sobre ela graças abundantes, seus frutos e seus dons preciosos. Oh, feliz crucificação, a da carne e a do coração! Quando enfim o mundo compreender-te-á?
A penitência é arma poderosa contra esse vício nefasto. Submeter a natureza ao império da razão e da fé, rechaçando todo excesso e toda desordem, é um ato cristão necessário para quem busca servir a Deus e salvar-se.
Quando se perde a inocência, por culpa desse vício, só a penitência pode vir em nosso socorro. A bela virtude da penitencia é nesses casos de muita valia A mortificação é o escudo contra os dardos de Satanás. A imodéstia produz na alma ouvidos atentos e muito finos com os quais ouve os cantos mais ocultos dessa sereia infernal. Para cerrar esses ouvidos, é necessária a cauterização da penitência e da mortificação.
Oh, quantas coisas poderia dizer desse maldito vicio que tantos castigos trouxe ao mundo!
Água e fogo vieram do céu para afogar e queimar essa peste aterradora. O mundo no dilúvio e as nefandas cidades foram presa do castigo do Onipotente. Muitos corações, hoje, pela mesma razão, haveriam de queimar e afogar. Contudo na eternidade será satisfeita a justiça divina.
Mas não. Meu Coração estremece.Quero perdoar. Nos últimos tempos, trago o perdão para o mundo, por intermédio do Meu Coração e da Minha Cruz. A Cruz é a salvação do mundo. Gritai – e essa voz ressoe por toda a terra – que o remédio da imodéstia é a Cruz, a dor santificada pelo Meu Coração na sacrossanta Eucaristia, em Maria. Que o mundo espiritual, tão lamentavelmente enganado e enganador, entenda isso, pois, no íntimo das virtudes, muitas vezes, oculta-se a imodéstia lamacenta.
Quantos e quantos corações começam bem e acabam mal! Os afetos que não são moderados pela virtude – algo raro na natureza humana! – quase sempre, ainda que espirituais, de afetos espirituais passam facilmente a afetos materiais. E acrescento mais ainda: os afetos espirituais desvirtuados são os mais prejudiciais e os que Me ofendem mais intimamente.
As mulheres e os que se dizem decentes também podem ter esse vício abominável, porque toda carne tem o germe do pecado.
Todo sofrimento físico do Meu corpo na Minha dolorosa paixão, os sofrimentos do Meu Coração na agonia do Horto e na Cruz, foram para expiar esse horrível pecado. Digo isso para que tu vejas a gravidade do vício da imodéstia. Sofri e padeci tanto quanto foi necessário, de acordo com a imensa e infinita ofensa feita a Deus. Somente o Homem-Deus que é a própria pureza, a luz eterna da imaculada pureza, poderia devidamente satisfazer a pureza ultrajada.
Que abominável é esse horrível vício! No inferno há um fogo especial para castigá-lo. A imodéstia não reside apenas no corpo, mas também no coração.
Por isso é tão funesta. O coração é que comunica esse veneno ao corpo, e não este àquele. A alma impura é toda asquerosa. Até o ar que respira está cheio de miasmas pútridos que a envenenam mais e mais.
O vício da imodéstia sempre está numa encosta tão íngreme, que a alma desgraçada que se torna sua presa geralmente precipita até o inferno. Nada é capaz de detê-la! Esse vício universal que Eu odeio tanto quanto Minha infinita pureza é capaz de odiar, causa profundas e dolorosas penas ao Meu Coração.
Nenhuma alma impura pode conhecer-Me. Muito menos, amar-Me. Nenhuma dessas almas desgraçadas pode aproximar-se de Mim, se antes não se purifica com a água da contrição. Isso nem no tempo nem na eternidade. Meus olhos jamais se detêm numa alma impura. Longe de Mim toda mancha: sou o Deus da luz, da claridade, da limpeza e da imaculada pureza! Minha voz jamais penetra ouvidos dispostos a escutar Satanás. Eu sou o adversário da impureza. Eu não desço num coração maculado.Ultrajam-Me – dor!- as mãos sacrílegas dos que se passam por Meus! Recebem-Me peitos enlameados e traidores! Aqui tendes Minha paixão cotidiana, que Me faz sofrer e penar incompreensivelmente mais, em sentido místico, que a paixão do Calvário. No Calvário crucificaram-Me apenas uma vez. Aqui, tantas vezes! Então era Eu feliz com o duro contato dos cravos na Cruz. Mas o contato do meu corpo virginal com os corações impuros- ai! – é o maior suplicio da Minha pureza virginal. Todos os dias – e quantas vezes ao dia! – se Me sacrifica desse modo. Só os cravos do amor Me obrigam a penas semelhantes! Essa questão dos sacrilégios quase passa desapercebida a todos os cristãos que Me amam, mas haveria de ser o foco central de suas expiações.
Oh, que dor ao ver-Me abraçado, tão intimamente, ao que mais odeio, rechaço e repugno! E permito tudo isso, porque amo esse mundo infame que Me arroja nesse imundo lodaçal, e Me aperta e Me pisoteia.
Dar-Me-ão muita glória esses escritos que são Meus, muito Meus,e que têm um fim que só Eu conheço para a santificação das almas.