VÍCIOS OPOSTOS ÀS VIRTUDES DE INGENUIDADE
4.Exageração
Jesus: A exageração é filha da mentira e é muito semelhante à sua mãe. É um defeito que pode se tornar um vício, o qual, por sua vez, pode chegar a ser como uma segunda natureza no homem. Da exageração, muito facilmente, resvala-se e se cai na murmuração, manchando a alma com faltas graves e até com grandes pecados. A exageração é uma inquietação interior que agiganta desmedidamente a verdade das coisas e dos fatos. É um vício, portanto, contra a verdade, que se quer adulterada, embora seja o que de mais puro e santo pode existir. A verdade sempre é límpida, clara, singela, pura, cheia de luz resplandecente. Entretanto a exageração tem como missão falsificá-la e manchá-la, porque a mentira nasce e vive lado a lado com ela.
A alma exagerada peca por desfigurar a verdade, que é pura e sem mancha. A alma exagerada é sempre dúplice, falsa, inconstante e sonhadora. Assume como certo tudo o que ela inventa em sua mente, aceitando-o e externando-o sem demora e de bom grado. Quase sempre, as almas exageradas são loquazes, curiosas e impetuosas: não conhecem as belas virtudes do repouso, da serenidade, da circunspeção e da tranquilidade. São inquietas e inconstantes.
Muito virtuosa é a alma que não exagera nem com palavras nem com a imaginação. Mas onde se encontrará uma alma assim?
Certamente rara é uma jóia desse tipo, porque o ser humano tende por natureza ao exagero e à mentira, sendo refratário à verdade nua e crua. Em sua memória e inteligência, o homem inclina-se constantemente para o que não é. A imaginação é onde se esbalda a exageração, transformando em paixão aquilo que começou como simples passatempo. Satanás maneja com destreza sem igual essa arma traiçoeira, induzindo o homem a crer aquilo que, em sua astúcia, exagerou para envenená-lo e entregá-lo ao desespero. Satanás pinta de muitas maneiras aquilo que ele exagera interior e exteriormente. Como ele é o pai da mentira, e esta é sua filha muito amada, habilmente, confere-lhe mil formas, introduzindo-a até dentro das próprias virtudes e da santidade.
De forma enganosa a exageração aumenta as faculdades da alma, estimulando a vaidade e a autocomplacência. Satanás sempre lança suas redes a capturar de vários modos a pobre alma. Como um vício provoca muitos outros, a alma incauta deixa-se enredar sem desconfiar de seus ardis e trapaças.
O remédio contra a exageração é a verdade, a exatidão nas palavras, a profunda humilhação e o desprezo de si.
Humilhar-se, retratando-se e confessando as próprias faltas, também é muito saudável para cortar esse vício. A oração, o exame de consciência e o devido castigo conseguem dominar a exageração, mas, para isso, precisa-se de uma vontade firme, enérgica e desejosa de perfeição. Com essas disposições, descerá a graça, e a alma triunfará.