VIRTUDES DE RECOLHIMENTO
5.Oração
A oração é a chave dos tesouros eternos. É o silêncio profundo da alma apaixonada.
Seu alimento e sua vida. É o âmago em que Deus se junta à alma pura.
A oração encerra em seu puríssimo seio as confidências celestiais dos divinos amores.
É um campo escolhido por Deus para se comunicar intimamente às almas inocentes, simples e humildes. Jamais Deus desvenda seus véus diante de almas soberbas, falsas ou maliciosas.
A divina escada da oração contém muitos degraus pelos quais a alma sobe e Deus desce.
Oh, graça sublime do Criador para com sua criatura! Deus três vezes santo para com a alma pobre,nua,vazia e sedenta! Com as ricas vestes da graça.
Ele adorna a alma despida de seu próprio querer. Enriquece, com seus dons e as pérolas preciosas das virtudes, a alma que é deveras pobre em espírito ou que tem a divina pobreza espiritual perfeita. A alma vazia que morreu a si mesma para viver só para Deus está repleta dos abundantes tesouros eternos.
Com a comunicação e posse da sua divindade, Deus acalma a sede de justiça da alma sedenta.
As almas puras hão de presentar-se, na oração, com quatro propriedades que descrevo a seguir. Repito: são indispensáveis quatro qualidades para uma verdadeira oração e comunhão da alma com Deus. Deus não entra em corações que não sejam pobres, nus, vazios e sedentos. Deus jamais desce com seus tesouros divinos em almas soberbas. Uma alma humilde atrai Seu olhar, Seus dons,
Suas graças e Seus divinos favores. A oração, então, não está ao alcance de qualquer alma, mas somente das que possuem, em maior ou menor grau, essas quatro virtudes. Essas almas também têm acesso à comunhão com Deus proporcionalmente ao grau de suas virtudes.
A oração é uma grande dádiva: a alma que recebe essa graça geralmente alcança a santidade perfeita. Contudo, embora sendo dom divino, a oração é concedida pelo Espírito Santo apenas a almas puras ou purificadas. A pureza de alma e corpo também é condição indispensável para a comunhão com Deus.
A dor é companheira indispensável da oração: nela a oração encontra seu progresso. A pureza e o sacrifício sustentam, conservam e alimentam a oração.
Mortificação e penitência são o manancial que rega, fertiliza e faz frutificar o campo divino da santidade.
A oração é a fonte perene de toda graça: chega ao Coração de Deus e transpõe alturas inconcebíveis ao entendimento humano. Pode-se orar em todo tempo e ocasião. Jamais o trabalho impede a oração. A alma leva em seu íntimo o segredo da oração. Nela está o santuário da comunhão com Deus.
A oração é a voz harmoniosa da alma pura que galga os céus e chega até o trono de Deus. E flecha amorosa que transpassa o Coração do Amado.
A oração que chega ao trono divino nunca volta sozinha, mas com graças e favores em benefício da alma pura.
A oração é o alento do Espírito Santo. É a semente que transforma as almas divinizando-as. Tem em si o germe e o progresso de todas as virtudes.
A alma que reza, alcança, pois ninguém que pede por esse meio, deixa de receber muito mais. A maioria das almas são pobres e miseráveis, porque não rezam.
Que inércia e que cegueira extraordinárias! Tendo em suas mãos tesouros eternos, sequer se dignam de mirá-los! As almas se perdem, porque querem perder-se, já que os meios para sua santificação abundam, mas são desprezados.
A esse propósito, muitos cargos pesam sobre os ministros da Igreja.
A oração é um campo viçoso com muitas flores coloridas. É a escada santa
com que o Esposo vai ao encontro da alma apaixonada e aflita que a Ele se entrega secretamente.
Fortaleza, vigor moral, integridade, firmeza e ordem são suas tropas de defesa contra o inimigo.
Outras muitas e muitas virtudes são consequência da oração e filhas dela.
A meditação é como uma irmã mais nova da oração, e ambas são filhas de Deus.
As virtudes teologais-fé, esperanca e caridade – hāo de ser os eixos da oração.
A via unitiva está inserida na oração, assim como os divinos amores, a santidade, a perfeição, a união, a contemplação e os desposórios.
Muitos santos meus, da oração passaram ao céu.
Almas existem, ainda que poucas, que nunca cessam de orar e que, portanto, recebem graças, crescem em santidade e perfeição de coração.