Virtudes de Recolhimento
3.Solidão espiritual
A solidão interior ou espiritual é a antessala da oração. É filha inseparável do recolhimento.
Para a comunicação divina, é preciso que essa solidão seja acompanhada do silêncio, pois solidão e silêncio não são a mesma coisa. Trata-se de duas virtudes com características próprias, ainda que a sua missão seja muito parecida. Pode haver solidão com ruído exterior e interior,
Todavia o silêncio não admite ruído. Solidão e silêncio, juntos, formam o ninho do Espírito Santo.
A solidão interior é o esvaziamento da alma pura ou purificada: com esse vazio, ela prepara uma casa para o Espírito Santo. Esse vazio, indispensável para a comunicação divina, só existe na solidão interior de uma alma límpida, na qual Deus toma assento.
A solidão da alma proporciona esse vazio que o Espírito Santo habita, pois esse divino e santo Espírito jamais desce em almas cheias de si mesmas, de vaidade, de soberba e de vícios. O santo vazio da solidão destrói esses impedimentos, e a alma limpa, que renuncia a si mesma, morre para si, nada
deixa em pé em seu coração, essa alma, absolutamente vazia, já começa a viver em seu lugar.
Oh, feliz esvaziamento da solidão de uma alma pura! Se os homens, os que se dizem Meus, compreendessem seu valor, incomparável a nada terreno, sacrificar-se-iam alegres, esforçando-se para alcançá-lo! A alma que vive nessa solidão, vive muito próxima de Jesus e não demorará para escutar a Sua voz e as puríssimas ternuras do Seu Coração amante.
As almas esvaziadas são as que alcançam esses favores, vivendo na solidão interior de seu coração. As almas que vivem nessa solidão espiritual perfeita respiram um ar que não é deste mundo; já vivem nas altas regiões da vida espiritual.
Quando o Espírito Santo baixa desce nessas almas esvaziadas, sua ocupação é enchê-las e adorná-las de todas as virtudes, santificando seu espírito. Com efeito,o Espírito Santo forma santos espíritos, com suas virtudes, dons e graças. Muito elevadas são todas as virtudes interiores, espirituais e perfeitas, embora acessíveis às criaturas. Uma alma que ama, esvazia-se por meio do sacrifício. O esvaziamento atrai as virtudes. E nas virtudes descansa Jesus. Sim, Jesus só descansa na solidão das almas puras que se crucificam para alcançá-lo. Nessas poucas palavras, encerra-se o Oásis: na solidão e no vazio, estão o amor e a dor. Oh! Se as almas buscassem essa solidão perfeita por meio do sacrifício! Elas chegariam sem dificuldade ao silêncio interior pela porta do recolhimento, e ali escutariam as ternuras e os amores divinos.
Desgraçadamente, diante de um mundo materialista e corrompido, poucas almas andam por esses caminhos interiores!
Quase todos os homens correm atrás de coisas exteriores! Mesmo alguns dos que parecem espirituais, sem sê-lo, contentam-se com a casca das virtudes, sem penetrar-lhes a polpa dulcíssima,
santa e sublime!
Essa solidão e vazio da alma têm muitíssimos inimigos, que, dia e noite, brandem suas armas. O mundo, o ruído, a inquietação, a agitação, o turbamento, a inquietude e a precipitação; a desordem, a curiosidade, a imaginação e outros vícios,constantemente, assediam e ferem a alma, Esta, porém, à sua volta, também tem uma multidão de virtudes que a defendem: a firmeza, a tranquilidade, o recolhimento, a fortaleza, a paz e a presença de Deus.
Quanto havemos de amar essa solidão interior que proporciona e preserva o vazio da alma pura, limpa e padecente!
Essa solidão não consiste numa quietude prazerosa da alma e do corpo, porque o vazio que a forma é fruto de um árduo trabalho do sacrifício e de uma prática constante de muitíssimas virtudes.
Trabalhemos a fim de alcançar a perfeição da solidão espiritual.