Virtudes de Recolhimento
1.Silêncio
O silêncio nasce da humildade, cresce com o sacrifício, floresce e se conserva com a presença de Deus.
O silêncio é uma virtude de muita importância. Atrai para a alma grandes
benefícios, sobretudo espirituais, e evita os pecados da língua. O silêncio interior é indispensável para viver as demais virtudes em profundidade.O silêncio interior espiritual perfeito é a paz constante da alma que só se ocupa de Deus, só pensa em Deus e só faz o bem porque ama a Deus. O silêncio é a linguagem da alma que é inteiramente de Deus. Com efeito, de que adiantaria se os lábios calassem enquanto o coração murmura, agita-se ou inveja?
Contentará a Deus esse silêncio exterior sem ser acompanhado também por um silêncio interior?
O silêncio exterior é bom e necessário, sobretudo na vida religiosa.
Entretanto não é esse o que Deus exige em primeiro lugar, para comunicar-se
com a alma.O silêncio interior é o que mais agrada ao Espírito Santo, que dele necessita para falar com a alma e encontrar ouvidos dispostos a escutar.
Certamente, o silêncio exterior, quando devidamente guardado, serve de preparo para o silêncio interior, no qual somente se percebem os gemidos da Pomba querida, seu canto suave, as amorosas e dolorosas palpitações do Coração de Jesus. Nesse silêncio, escuta-se a voz de Jesus, suas lições, seus amores, Nele encontram repouso a paz, a tranquilidade e as demais virtudes, pois o silêncio é o descanso das virtudes. Seu apoio é uma alma esvaziada.
Sua vida é o conhecimento de si mesmo.
Sua fisionomia e todos seus movimentos vitais encerram-se dentro da humildade.
Seu fim é a santificação própria e alheia.
Jamais está ocioso esse santo silêncio, É um silêncio ativo que incita constantemente a alma a conhecer-se e a conhecer-Me, a desprezar-se e a amar-Me.
Nisso alia-se a muitas virtudes suas companheiras e a todos os meios que estão a seu alcance, sendo, ademais, mui amigo do sacrifício e da abnegação.
O silêncio interior beira a oração. Eu o pratiquei por toda a Minha vida, também no tempo da Minha pregação, pois o ato de pregar não perturba o silêncio interior.
O silêncio interior foi a virtude preferida de Maria, que se recolhia em seu interior e guardava em seu coração todos os fatos e palavras da Minha vida.
A alma bem-aventurada que goza desse silêncio interior conserva sempre
dentro de si a santa liberdade do Espírito Santo.
É tão grande e necessária essa virtude na vida espiritual, que ninguém chega a compreender inteiramente seu valor.
O silêncio é remédio eficaz contra a murmuração. Também é um meio eficaz para alcançar o amor divino. O silêncio é de ouro puro. Calar sempre e falar apenas para a glória de Deus e o bem do próximo, é coisa de santos. A língua é o órgão mais difícil de ser controlado pelo homem. É tão fácil falar, e falar mal, caindo na murmuração, que, em muitos casos, o mais prudente e acertado é calar.
O homem raramente se arrepende de ter guardado silêncio; contudo de ter falado em demasia, sempre há de arrepender-se.
O silêncio não só impede a murmuração de quem a ela é propenso, mas corta também a murmuração dos outros. Estingue-se no silêncio toda murmuração: porém no silêncio sincero, total e completo, não só de boca, mas também de coração.
Há também um silêncio dito provocativo (até onde chega a malícia satânica!), que, porém, não é um silêncio sincero que busque a virtude e fuja do vício.
Bem-aventurada a alma que sabe calar! Ver-se-á livre de infinitos males.
Muitas e mui heróicas virtudes estão associadas ao silêncio. Soltar as rédeas da língua causa ao homem prejuízos incalculáveis. A alma que não se refreia nas palavras atrai infinitos males para si. O ‘pulso do espírito’ é a língua. Quando a língua é atada, a alma alça voo e penetra nos segredos divinos. Quando a língua cala, os ouvidos do espírito escutam as inspirações divinas. Tamanho é o ruído da língua no coração, que a alma não pode escutar a voz suavíssima do Espírito Santo.
O silêncio conduz à perfeição, sendo indispensável na vida espiritual.
Porém, para que o silêncio seja reto e ordenado, há de ser acompanhado pela virtude da oportunidade. Falar e calar quando convenha é próprio de um homem perfeito e experiente.
Salvo raros casos, silenciar é o que há de mais perfeito e o que mais custa a fazer: calar sempre, não apenas com a boca, mas também com o coração.
Calar quando o homem se vê injuriado, zombado, caluniado ou vilipendiado, é virtude santa e mui rara no mundo atual.
Grande mérito tem o silêncio em tais casos!
O silêncio tem seu prêmio especial. Pelo silêncio dá-se impulso a muitas virtudes.
Nele a caridade encontra, inumeráveis vezes, seu assento.
Silenciar os defeitos do próximo é uma grande virtude. E, quando há necessidade de revelá-los, que seja feito com simplicidade, caridade e com pena interna sincera de quem está obedecendo a uma tal obrigação.