Tratado Vícios e Virtudes – Vícios opostos às Virtudes de Humildade – Vaidade

Vícios opostos às Virtudes de Humildade

19.Vaidade

A vaidade é filha da soberba e do amor-próprio. Está em todos os corações, sobretudo nos femininos. É um vício que nasce com o homem, e cresce e se desenvolve em maior ou menor grau, conforme os meios que se lhe proporcionam. Eleva a alma da terra em devaneios imaginários e loucas quimeras que logo passam e se desvanecem como fumaça.

Principalmente a mulher tem-na incutida em seu próprio ser. Antes morre a mulher do que a vaidade que ela traz dentro de si.

Quem, com a sensualidade, alimenta a vaidade, verá esse vício crescer desmedidamente, arrastando a alma até a sua perdição, Se a puser em seus limites e a dominar com o espírito e a1 razão, poderá debilitá-la e prendê-la, embora jamais destroná-la por completo.

A vaidade é uma paixão extremamente tenaz. A guerra para derrotá-la dura a vida inteira. É uma serpente de sete cabeças; ao esmagar uma, levantam-se as outras.

É tão sutil a vaidade que, na companhia do amor-próprio, de onde procede, insinua-se em todo coração; nas coisas humanas e nas divinas; no material e no espiritual; no sadio e no perverso; no teatro e no templo; debaixo da seda e do saco de carvão; debaixo do manto real e da roupa mais pobre. Sua insolência atinge tal grau, que corrompe até os atos da mais pura piedade e da mais santa devoção. E infiltra-se – horror! – até no mais íntimo das virtudes, pervertendo-as. Encontra-se igualmente em festas e enterros. É um vício tão maldito, que não se contenta em chegar até os umbrais da morte, mas perpetua-se ainda na arquitetura dos sepulcros.

A mulher ama a vaidade. Tem-na sempre por companheira, à guisa de uma segunda natureza. Em seus pensamentos, desejos, movimentos, aspirações e respirações, há vaidade; em suas potências e sentidos, e até no fundo do seu espírito há vaidade.

Para derrotar um vício tão horrível, a mulher precisa de armas poderosas. E é um triunfo grande para ela podê-lo dominar e em parte vencer, porque é um mostro com muitas vidas que precisa ser apunhalado sem descanso.

É indispensável, para empreender com fruto a vida espiritual, derrocar a vaidade, pondo-a acorrentada debaixo dos pés.

Nisso consiste o primeiro degrau do caminho espiritual. Sobretudo se é mulher quem se propõe a chegar à perfeição. Sem passar por essa etapa inicial, a vida espiritual será ilusão, já que não pode existir perfeição espiritual numa alma vaidosa.

Na vida espiritual, a vaidade é um dique poderoso que detém a comunicação divina. No mesmo instante em que a alma se envaidece pelas graças recebidas, atribuindo-as a seus próprios méritos, estas se retiram e a abandonam. Não há coisa que mais rechace o Espírito Santo que a soberba e todos os vícios que dela derivam.

A vaidade é um movimento secreto do coração, uma ilusão que ilumina os atos da criatura a seus próprios olhos com arroubos que passam e que deixam, depois, o desencanto da triste realidade. A vaidade é uma fantasia quimérica que desvanece e passa, deixando, após sua passagem dourada, um remorso pungente na alma. É um vento que envolve e enche o coração momentaneamente, deixando-o, mais tarde, triste e sem brilho, É a loucura universal do coração humano. E uma espessa fumaça com que Satanás ofusca a inteligência: levanta o homem às alturas para, de lá, deixá-lo despencar.

Nas almas levianas, a vaidade é uma poeira levantada por Satanás, a fim de ofuscá-las e sujá-las de terra.

As riquezas conferem à vaidade um impulso extraordinário. As honras e os altos cargos, no mundo e na Igreja, fazem-na agigantar-se.

Na vida espiritual, além de ser um dique, é uma praga que desvirtua os atos mais santos, contaminando-os com seu contato.

A alma vaidosa carrega também outros vícios, como a soberba, o orgulho, a presunção, o pedantismo, a fatuidade (sua irmã), a pretensão e o amor-próprio.

Desgraçada a alma que se deixa enredar em malhas tão finas!

O remédio contra a vaidade é muito árduo, implica grande força de vontade, acompanhada pelo desprezo de si. Trata-se de romper constantemente toda revolta interior, com atos de profunda humilhação. Sempre se opor a toda inclinação rebelde. Estudar e meditar tal vício para chegar a dominá-lo e vencê-lo.

Mais ainda: é mister recorrer à fonte de todas as graças, por meio da oração, para alcançar a vitória contra esse vício que logra apoderar-se das obras, das palavras e até dos pensamentos da criatura.

A vaidade chega a formar uma segunda natureza no homem; contamina os atos da sua alma a ponto de tornar-se natural em todas as suas operações.

Insinua-se até o mais recôndito da alma. Há vaidade no falar e no calar; no andar e no sentar; na elegância e na pobreza; nos movimentos, palavras, escritos e pensamentos; nas orações e devoções; no prazer e na sobriedade. No ar que se respira, também há vaidade. Nas comunidades religiosas, há vaidade em altíssimo grau. Há conventos que são redutos do amor-próprio e da vaidade.

A alma que, abraçada à Cruz, renuncia a si mesma, alcançará subjugar a vaidade e terá forças suficientes para mantê-la vergada a seus pés. Bem-aventurada a alma que vence a vaidade! Subirá a um grau muito alto de perfeição.

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