Tratado Vícios e Virtudes – Vícios opostos às Virtudes de Humildade – Indiferença Culpada

Vícios opostos às Virtudes de Humildade

  1. Indiferença culpada

A indiferença procede da dissipação e da soberba. A frieza e a tibieza formam seu entorno. Chega a indiferença a congelar de tal modo o coração, que nada é capaz de devolver-lhe a vida da graça.

Esse vício horrível costuma juntar-se à infidelidade e à inconstância. Sua marca é a ingratidão.

Uma alma pecadora tem remédio. Uma alma indiferente não tem remédio.

A indiferença culpada é a rainha dos vícios: conduz a alma à impenitência final e ao inferno.
Almas pecadoras e até obstinadas chegam a converter-se num golpe de graça, mas almas indiferentes têm dentro de si uma surdez total, uma insensibilidade fatal por tudo o que é divino, que se fecham por completo ao
arrependimento e à graça.

Chegam as almas a essa indiferença letal, coroa de todos os vícios, pelo caminho ladrilhado de pecados. Satanás as conduz pela mão até se tornarem indiferentes, passando pela soberba, luxúria e impureza, que são os vícios que mais arrefecem as almas, submergindo-as na fonte venenosa de uma gélida indiferença.

A indiferença mata os sentimentos santos da alma. Rouba-lhe a vida da graça e mergulha-a em águas tão profundas, de onde jamais lhe permite sair.

Certamente não é essa a indiferença santa que ajuda a alma pura a entregar-se totalmente à vontade divina. Pelo contrário, é uma indiferença maligna, brotada de um coração infame, manchado de todos os vícios.

É o pecado que produz esse tipo de indiferença: alimenta-a e fá-la crescer para matar a alma infeliz que a traz em si.
Nada de espiritual pode comover uma alma indiferente: olha os santos sacramentos e tudo o que é divino através dos óculos embaçados da indiferença.

Não se aterroriza com as verdades eternas, nem se comove e derrete com a suavidade das Minhas ternuras e dos Meus sacrifícios.

A soberba penetra na alma indiferente e senta num trono. Mesmo que o próprio Deus ficasse a seus pés, não conseguiria dissuadi-la por nada neste mundo. Que grande desordem existe dentro dessa gélida indiferença que nada é capaz de derreter!Como as almas deveriam livrar-se dela! Ninguém acredite que a indiferença toma possa da alma repentinamente. Pelo contrário, mina a alma pouco a pouco por meio de vícios que chamamos pequenos, e que não o são: pelo respeito humano, pela comodidade, pela fraqueza e a delicadeza, pela debilidade e a fragilidade, pela inconstância e a covardia, pela ociosidade, pelo fastio, pela preguiça e a mentira, pelo cansaço e pela susceptibilidade, pelo fingimento, a hipocrisia e a dissipação, pelo sensualismo e por todos os demais vícios quando crescem em malícia e intensidade.

Essa é a escada maldita pela qual a alma desgraçada chega até a indiferença.

Quanta indiferença existe no mundo e a quantos crimes conduz! O inferno regozija-se ao ver a indiferença religiosa espalhar-se pelo mundo.

Não há outro remédio para a indiferença a não ser uma total reforma interior da alma, algo certamente difícil se não vier do céu em seu socorro uma torrente de graças especiais.

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