Tratado Vícios e Virtudes – Vícios opostos às Virtudes de Humildade – Orgulho

Vícios opostos às Virtudes de Humildade

7.Orgulho

O orgulho é pai do escândalo e filho da soberba. É causa de inúmeros males.

Milhares de pecados derivam dele. É o sopro de Satanás e sua própria substância: todo ele é feito dessa substância. O orgulho é a elevação constante do coração que busca as alturas, envaidece-se e vê os demais, desde seu pedestal, como insignificantes, indignos e depreciáveis.

O orgulho é um fumo denso que envolve a imaginação em nuvens de vaidade que se dissolvem nas alturas. É uma paixão que ofusca a razão humana, enchendo-a de vã soberba. É um vício horrível que distancia do pobre, do desamparado e do débil, atacando diretamente a caridade.

Odeio o orgulho e o orgulhosos, porque um coração orgulhoso carrega em si Satanás. O coração orgulhoso é imundo e impuro.

O âmago do orgulho é Satanás: desse centro abominável, surge e contagia milhões de corações.

O orgulhoso é arrogante, vaidoso, perverso e iracundo, avaro, invejoso, estulto, por vezes hipócrita. A sensualidade arrasta-o.

A humildade repreende-o. A mortificação repugna-o. O contato com o pobre repele-o.

O orgulhoso é fingido, falso, egoísta, murmurador, colérico, vingativo, rancoroso e até pérfido.

Todo vício ou paixão ressoa, mais ou menos intensamente, no coração do orgulhoso: a frieza congela-o; a indolência arrasta-o; a comodidade e a mais refinada delicadeza fazem dele sua presa. O cansaço espiritual, o fastio pelas coisas divinas e o desânimo o dominam. Nele mora a surdez espiritual: ao irromper das paixões, é incapaz de ouvir a suavíssima voz do Meu Espírito.

O coração do orgulhoso vive sempre agitado, em contínua angústia por não ver-se aplaudido pelos demais, conforme sua pretensão. O coração orgulhoso não tem paz, tranquilidade, repouso: seus constantes desejos de glórias e incensos tornam-no um desgraçado. Seu coração, delicado e susceptível enfurece-se a qualquer vento, perdendo a esperança, sempre propenso a incendiar-se à menor faísca, ao menor ciúme, à menor inveja. As tempestades enfurecem em seu íntimo, terríveis, sem controle, até privá-lo de seus sentidos e, por vezes, da sua razão.

Desgraçada é a alma que leva em si monstro tão poderoso. Se não o degola e mata, será infeliz para sempre, num antro espantoso do inferno, expressamente criado para castigá-la.

É o orgulho adversário da humildade: é uma forma de soberba com aparência mais viva, pois o orgulhoso vive e respira da própria soberba. A bela virtude da paciência está muito longe do orgulhoso, cujo desespero chega ao cúmulo nas contrariedades, desencantos e decepções da vida. Como vive o orgulhoso de vãs fantasias e fictícios castelos de fumo, ao deparar-se com a realidade, cai, machucando-se, de suas grandes alturas.

De tão desgastante, essa maldita paixão não afeta apenas o homem exterior, mas também seu trato interior para Comigo, por reduzido que seja.

Impregna-se de tal modo nos atos e no próprio ser do homem, que todo ele exala orgulho e soberba. Quando envio, para seu bem, alguma dor ou pena, enfurece-se contra Mim, mais ou menos abertamente.

E disso procedem horríveis blasfêmias que Meus santíssimos ouvidos escutam. Como ofende a Deus o coração do orgulhoso!

O orgulhoso traz em si uma corrente de incontáveis pecados, que Satanás amarra em seu pescoço, arrastando-o para a eterna perdição. Quanta amarra desse tipo há no mundo material e espiritual, pois o orgulho é fruto para todo tipo de clima, e mobília para todo tipo de casa! Em palácios e cabanas, claustros e salões, dentro e fora da alma,encontra-se essa serpente infernal cheia de pérfido veneno. Esse vício maldito faz seu ninho também na vida espiritual: insinua-se na vida ordinária, e até na extraordinária, detestado por Deus particularmente pelos males infinitos que causa às almas. Oh, vício abominável, que provocou a queda do anjo de seu trono e inunda o mundo de males e pecados! Deus detesta tanto o vício satânico quanto seu miserável autor, que, desesperado, revolve-se em sua própria obra, delirante e cheio de furor!

A Cruz o esmagará, ela que é aguilhão do orgulho e pesadelo de Satanás!

O remédio do orgulhoso está na Cruz, da qual brota a humildade, antídoto da arrogância. A alma que queira curar-se desse mal gangrenoso, apele ao desprezo de si, à renúncia total da própria vontade, rendida nos braços da obediência. Com vigor moral, firmeza, constância e generosidade, abrace as mais profundas e repugnantes humilhações, a labuta, a docilidade, a submissão e a paciência. Que se crave na Cruz e, nessa voluntária e constante crucificação, encontrará formosas virtudes, inclusive a fortaleza para pô-las em prática.

Na Cruz, encontram-se todas as riquezas e jóias com que se derrotam os vícios e se ascende ao céu.

A inimiga mortal de Satanás é a Cruz. À exceção de Maria, a ninguém odeia mais que a Cruz, porque sabe muito bem Satanás que nela se encontra toda riqueza espiritual. Nem ignora que a Cruz é a porta por onde se entra no céu. A Cruz é a porta do paraíso. Cristo crucificado é a chave divina dessa porta ensanguentada.

Terminou sua vida cravado na Cruz, para que as almas, por meio dessa divina chave, abrissem a porta da Jerusalém celeste.

Graças a seus méritos infinitos, tingidas com seu Sangue e beneficiadas pelas virtudes da Cruz, as almas entrarão triunfantes no céu.

Na Cruz, esbarra todo orgulho: no fruto bendito dessa árvore santa, que é Cristo, desfaz-se, dissipa-se, dissolve-se todo coração soberbo. Diante do Cordeiro sem mancha crucificado, sucumbirão os corações mais orgulhosos, esmorecendo na cruz toda perversa perturbação. A sombra da Cruz, desvanece toda fantasia, toda vaidade humana, toda altiva aspiração; quebra-se toda soberba; aquece-se todo coração morno ou frio; acalma-se todo ruído mundano; aquieta-se todo ódio, rancor ou vingança; encontram-se a paz e a tranquilidade, a serenidade e o repouso.

Em contato divino com a Cruz, o coração começa a provar o suave sabor da profunda humildade, da pureza imaculada, emendando-se de todos os males.

Na Cruz está o remédio do orgulho. Na Cruz, rompe-se em mil pedaços toda paixão má. Na Cruz, nasce, cresce e se desenvolve a via espiritual, vida puríssima, feita de sofrimentos, que torna o homem feliz no tempo e na eternidade.

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