VÍCIOS OPOSTOS ÀS
VIRTUDES DE HUMILDADE
1.Soberba
Que Jesus só se encontra no meio dos homens! Quanta fumaça e quanta palha!
O mais consiste em exterioridades vãs e numa soberba crescente que tudo abarca. Este vício maldito da soberba, vejo-o claramente reinar no mundo e na Igreja: em seus ministros, comunidades religiosas, famílias e nas almas dos que se consideram santos.
Espalha-se de forma refinada e espiritual. Vejo-a infiltrar-se muito sutilmente até onde menos poderia suspeitar-se! É o sal com que se tempera o reino das almas.
Meu Deus, que desgraça! E que estragos ela faz inadvertidamente! É um veneno que mata secretamente as almas, se não se lhe interpõe a tempo o antídoto da humildade.
É o rei dos vícios, o vício capital que arrasta consigo os demais vícios e precipita muitas almas no inferno.
Não é exagero dizer que a maioria das palavras, ações e até devoções e obras piedosas tem essa mancha que, mesmo não sendo pecado, desabona muitos para o céu.
A soberba é filha de Satanás, Nasce do seu mesmo ser e é mãe de todos os vícios, que gera e traz em seu seio.
Todo vício traz em si o germe de Satanás, sua fisionomia, seu semblante. A soberba é causa natural de toda desordem da alma e do corpo.
Envenena todo movimento espiritual, destrói toda virtude e santidade.
Perniciosa e maldita, a soberba tem derrubado e afundado torres mui altas de santidade. Em maior ou menor escala, todo pecado a traz em si.
É uma epidemia universal. Qual sereia enganadora, penetra no mais íntimo do coração humano e adormece-o com sua astúcia diabólica e o manto da hipocrisia e da falsa piedade. Há muita soberba no mundo.
Na eternidade, onde já não haverá mais remédio, será terrível e espantoso o despertar das pobres almas covardemente seduzidas e enganadas pela soberba.
Há vários tipos de soberba, moeda de muitos cunhos. A não ser que receba proteção especial da fúlgida luz da graça, quase não há alma que por ela não seja manchada em menor ou maior escala, de uma ou de outra maneira. Pelo discernimento do
Espírito Santo, pode ser descoberta na maioria dos atos da vida, pois se ajusta a todo estado, caráter e posição.
Nos grandes se apresenta de uma maneira, de outra nos pequenos, nos pobres e nos ricos, nos maus e nos bons, nos espirituais e nos mundanos.
A impureza, o ressentimento, a vingança, a inveja, a ira, o ciúme, a hipocrisia, o orgulho, a obstinação e outros vícios mais ou menos ocultos são seus principais e inseparáveis companheiros. Há outros vícios, horríveis também embora secundários, que, à guisa de satélites, seguem-na sem jamais separarem-se dela.
A incredulidade, a imodéstia, as riquezas, a adulação e as honras são suas armas favoritas, além de outras mil que maneja com admirável destreza.
As baixas paixões, das quais a soberba é rainha, formam seu exército, lutam incansavelmente contra as virtudes, levando à perdição eterna as almas, com todos os meios a seu dispor. O que causa maior tormento em Satanás é seu ódio contra Mim, sua oposição ao Meu poder e grandeza, pois não pode esconder o quanto sou digno de todo amor e louvor, até por parte dele mesmo. A maneira de Satanás descontar e vingar-se é arrebatando das almas a convicção inata de que Eu sou Tudo, elevando-as em falsos pedestais de secreta soberba, transformando-as em sua presa e afundando-as no inferno. Como seu ser é a própria soberba, Satanás não pode suportar Meu reinado e os louvores que Me são tributados.
Todo seu afã é roubar Minha glória, mesmo reconhecendo-Me digno dela, apesar de sua relutância.
Satanás não pode Me amar: esse é seu martírio constante. Assim, aborrece-Me e busca ocultar a soberba para livrar-se de sua pena eterna, sem consegui-lo. Esse é o maior tormento do inferno que persegue eternamente o anjo rebelde.
Enquanto espírito Satanás conserva suas qualidades. Sua compreensão tem uma extensão que o homem não pode alcançar nem medir.
Tem em suas mãos meios desconhecidos à inteligência humana e é sutil, vivo e esperto para além de qualquer imaginação humana.
Satanás também conjetura por alguns indícios o que há de suceder, e mantém em seus laços as almas para induzi-las a pecar. Não conhece o futuro, porém o vislumbra. O campo espiritual é o mais cobiçado por ele, porque é o que mais Me traz glória.
Também entre os vícios, como entre as virtudes, há vícios comuns e ordinários, espirituais e espirituais perfeitos. Isso porque é uma mania de Satanás imitar falsamente tudo o que é santo e perfeito e que pode glorificar-Me. Sua eterna vingança contra Mim é roubar-Me o amor e o louvor, já que ele não pode dá-los. Em seu coração sombrio, o ódio luta contra o amor, e, como nele a fonte do amor está ressecada, a vingança o impele contra Mim. Nele tudo o que devia ser amor transforma-se em ódio e aversão.
Toda a criação, tudo o que sai das mãos da infinita e divina onipotência tende à gratidão, ao amor e ao louvor do Criador. Mais que ninguém, Satanás compreende e experimenta em si mesmo essa necessidade evidente. Incapaz, porém, de expressar louvor, gratidão ou amor, Satanás brada, desespera-se e transmite sua dor a todo o inferno e aos condenados. Assim, apesar deles, todos dão-Me glória, visto que a essência do seu desespero é sua inclinação natural impedida de voltar-se para Mim, sua única razão de ser.
Esse tormento é o que constitui a essência do inferno, em que as almas já queimam, e queimarão, mais tarde, junto a seus respectivos corpos por toda a eternidade. Isso há de ser assim e é justo, pois em Deus sequer há sombra de injustiça. Pelo contrário, esse eterno tormento é a própria glória da justiça ultrajada e o castigo da soberba. Tão grande é a soberba, que a onipotência infinita criou o inferno para castigá-la da forma devida.
Tanto quanto amo a humildade, e é muito, assim também detesto a soberba em todos seus aspectos e formas. Nada abomino quanto a soberba, uma praga tão repugnante para Mim, que abandono logo a alma em que há soberba e Me retiro. A soberba entra por uma porta da alma, e Eu saio por outra.