Penitência espiritual perfeita
A penitência exterior tem a força de purificar o corpo e a alma. Existe,
porém, um outro tipo de penitência: a penitência espiritual perfeita. Esse segundo tipo de penitência tem um valor imenso e, como o próprio nome diz, toca diretamente o espírito, embora seus efeitos também sejam sentidos no corpo.
Essa purificação não vem da vontade humana, mas depende inteiramente da vontade divina. Essa vontade divina, por si só ou por intermédio de outro espírito, faz a alma passar pelo fogo vivo do crisol da mais intensa purificação.
Atormentando a alma, deixa-a capaz de receber as gracas divinas. É um fogo que em instantes consome até a menor imperfeição e aproxima o espírito assim purificado. Essa purificação deixa várias afeições santas na alma: dá luz, forca e união, três graças que, além de outras, Deus dá à alma feliz guiada por esses
caminhos. A penitência espiritual perfeita é um beneficio especial de Deus e um presente estritamente gratuito. É um favor do céu com o qual Deus purifica as almas, limpa-as para que ascendam à imensurável alteza da união íntima.
As aflições que atingem as profundezas do espírito são um dom gratuito.
Ninguém é capaz de remové-las ou diminuí-las. Pode-se inclinar Meu Coração a concedê-las, praticando os três graus de perfeição da religião da Cruz.
A penitência é de grande valor e propicia à alma inúmeros bens. O corpo é como uma arma, e a penitência é o gatilho a disparar o fogo sagrado que purifica a alma e a une a Deus. A penitência é arma poderosa contra os vícios.
É uma espora contra a preguiça e ataca frontalmente todos os pecados capitais. Defende a castidade, desperta o espírito e é antídoto contra o fogo do Purgatório. Detém a justiça de Deus, é porta de acesso a todas as gracas, é pérola resguardada para o céu. A penitência abre as portas da contemplação e dos tesouros celestiais. Contudo até seu nome causa horror. Oxalá se saboreassem seus frutos, seu gosto delicado impossível de ser encontrado no mundo!
A penitência inclina o homem à mortificação, ao desprezo de si, à caridade e à união com Deus.